domingo, 10 de dezembro de 2006

Heráldicas - marcas actuais de uma presença passada

Armas - Escudo de vermelho, um monte cosido de negro saínte de um pé de água de cinco faixetas ondadas de prata e azul; brocante e em pala, um cajado e uma caldeira, tudo de ouro, acompanhado em chefe de duas cruzes da Ordem de Malta de prata. Coroa mural de prata de cinco torres. Listel branco com a legenda a negro: “ CIDADE DE S. MAMEDE DE INFESTA “.
São Mamede de Infesta é uma freguesia do concelho de Matosinhos, com 5,21 km² de área e 23 542 habitantes (2001). Densidade: 4 518,6 hab/km².





Armas - Escudo de verde, ponte de um arco de prata, lavrada de negro, movente dos flancos e de um pé ondado de prata e azul de três tiras; em chefe, cruz da Ordem de Malta entre duas vieiras de ouro. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco, com a legenda a negro: “ CUSTÓIAS – MATOSINHOS “.
Custóias é uma freguesia do concelho de Matosinhos, com 5,78 km² de área e 18 065 habitantes (2001). Densidade: 3 125,4 hab/km². Foi elevada a vila em 1 de Julho de 2003.


Aldoar é uma freguesia do concelho do Porto, com 2,36 km² de área e 13 957 habitantes (2001).
«A Ordem dos Hospitalários, esteve inicialmente sediada em Leça, tendo a Igreja de Aldoar sido integrada no seu território com outras vizinhas. Mais tarde, com a transferencia da sede para o Crato, a povoação de Aldoar ficou fazendo parte da Comenda de Leça, que em 1571, passou a Balio
(Leça do Balio). Entretanto a Ordem dos Hospitalários tinha mudado de nome para Ordem de Malta. O seu símbolo permanece em vários locais da freguesia. Quando apareceram em Portugal os morgadios, Aldoar foi integrada no Morgado de Bouças e no seu julgado. Ao longo dos séculos a freguesia com as suas herdades as características rurais e as tradições agrícolas, recebendo também influencias do mar. Como área periférica do Porto, viveu alguns acontecimentos históricos, que afectaram a Cidade, entre eles as Lutas Liberais.
A partir dos finais do séc. XIX, processa-se a integração de Aldoar no Porto, levando progressivamente à redução do número de herdades.» in site da Junta de Freguesia de Aldoar.
Armas - Escudo de vermelho, cruz da Ordem de Malta entre duas espigas de milho de ouro, folhadas do mesmo; em chefe, uma mitra de prata com seus fanhões, lavrada e forrada de vermelho e, em ponta uma bota de ouro. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro em maiúsculas : “ESCAPÃES“.
Escapães é uma freguesia do concelho de Santa Maria da Feira, com 5,44 km² de área e 3 028 habitantes (2001). Densidade: 556,6 hab/km².

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

Contribuição Maltesa para a Arquitectura Barroca em Portugal II

Contributos de Carlo Gimach
.
Carlo Gimach veio para Portugal entre 1695 e 97 e por cá esteve até 1712. Os dados que inventariaremos seguidamente provam que deve ter desempenhado um papel muito importante na nossa cultura arquitectónica.
De acordo com vários testemunhos coevos publicados por Ayres de Carvalho, Gimach veio para Portugal ao serviço do Bailio Montenegro com o propósito de fazer o projecto de ampliação de uma casa-torre medieval (a Torre de Nevões) que este cavaleiro possuía em S. Salvador do Taboado (Marco de Canavezes). Montenegro promoveu outras obras na região de Lamego, mas na Torre de Nevões não existe hoje qualquer vestígio reconhecível de obras executadas na transição do séc.XVII para o séc.XVIII. É provável que a morte de Montenegro, ocorrida em 1696, e a ruína da família (documentada por Ayres de Carvalho) tenham impedido o início efectivo dos trabalhos.
Voltamos a encontrar Gimach anos depois (em 1703) fazendo o projecto de remodelação da igreja das freiras cistercienses de Arouca, situada no arcebispado de Lamego, de grande influência da Ordem de S. João. A intervenção do projectista maltês está documentada seguramente por vários testemunhos da época publicados por Ayres de Carvalho.
Pedro Dias, que estudou o grande complexo conventual de Arouca, detectou lá três campanhas de obras «modernas»: no século XVII, entre 1704 e cerca de 1730, na metade final do século XVIII. Gimach teria intervido na segunda campanha, projectando a igreja e o grande coro das freiras.
Na nossa opinião, fez também o projecto da sala do capítulo, do claustro e de duas escadas. Os projectos não foram executados sob sua supervisão (o claustro, aliás, só foi terminado no século passado) e isso explica a interpretação «chã» feita, por exemplo, da ordem superior da igreja (em estípites inéditas na arquitectura portuguesa) ou das molduras decorativas quadrangulares das paredes correspondentes à ordem inferior. A igreja em si, de nave única, galerias laterais de comunicação (necessárias a um convento de freiras) e profundo coro aberto para a nave por um magnífico arco abatido, não é tipologicamente inovadora; apresenta-se como mais um dos muitos traços da «domesticação» a que era sujeita pela cultura arquitectónica portuguesa a intervenção de arquitectos estrangeiros - cuja acção, como sucedeu em Arouca, se fazia notar essencialmente a nível de recursos decorativos. Mas em obras menos marcadas pela tradição tipológica, a inovação podia manifestar-se; foi o que sucedeu em Arouca com duas escadas projectadas por Gimach. Voltaremos a elas adiante.
No abobadamento da nave e da grande sala do capítulo Gimach mostrou a sua mestria nos projectos para cobertura de grandes vãos. Mas tal não sucedeu apenas em Arouca.»
in "Portugal e a Ordem de Malta...", de Martim de Albuquerque, 1992, pág. 324.

domingo, 8 de outubro de 2006

Conferência divulga influência da Ordem de Malta

Tal como já havia divulgado, teve lugar na tarde de ontem, na antiga Comenda de Rio Meão, uma conferência sobre a Ordem de Malta.



quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Conferência divulga influência da Ordem de Malta

A Cruz de Malta é um dos símbolos que identificam Rio Meão, mas cujo significado é ainda algo nebuloso para o comum dos cidadãos da freguesia. É com o objectivo de abordar a influência da Ordem Militar de Malta na história da vila, que deixou diversos vestígios, que a Junta de Freguesia local e a Câmara Municipal organizam um conjunto de iniciativas, este fim-de-semana, das quais se destaca uma conferência, no sábado, às 16h30 no auditório da Igreja de Rio Meão.
A conferência, moderada por Francisco Ribeiro da Silva, reúne vários especialistas. Paula Pinto apresentará uma “Breve História da Ordem dos Templários”; David Simões Rodrigues produzirá uma intervenção sobre “A Comenda de Rio Meão da Ordem de Malta”, enquanto António Feijó se deterá fundamentalmente sobre “As Actividades Hospitalárias da Ordem de Malta nos Dias de Hoje”.
A organização reserva para domingo outras iniciativas. Pelas 11h00, na igreja local, o bispo auxiliar de Lisboa, Carlos Azevedo, presidirá a uma missa solene, que conta com a participação do Coro da Madalena. No mesmo local, mas à tarde, tem lugar um concerto pela Orquestra Sinfónica de Jovens de Santa Maria da Feira, Escola de Música de Perosinho e Coro da Academia de Música de Viana do Castelo.

Contribuição Maltesa para a Arquitectura Barroca em Portugal

«O interesse do tema das relações artísticas entre Portugal e as «pátrias» da Ordem de S. João (Rodes e Malta, essencialmente) só de forma lenta vem sendo compreendido pelos historiadores da Arte e da Arquitectura portuguesas.
A questão foi abordada por Ayres de Carvalho no início dos anos 60 e por Robert Smith um pouco depois, mas não houve em qualquer dos dois casos uma preocupação globalizante. Ayres de Carvalho interessou-se apenas pela vida e obra de um artista maltês (Carlo Gimach) e Smith pela estadia em Malta de Nicolau Nasoni.
Mais recentemente, Rafael Moreira adiantou alguns dados inéditos sobre a presença em Portugal, no século XVI, de engenheiros militares ligados à Ordem de S. João e à ilha de Malta (Gabriel Tadino de Martinengro e Benedito da Ravenna, entre outros).
Entretanto, em Malta, Michael Ellul aprofundou a investigação sobre Carlo Gimach e divulgou algumas das suas conclusões, as quais, recortadas com os resultados da pesquisa de que nós próprios vimos procedendo sobre a obra de Gimach em Portugal, permitem já uma apreciação completamente nova do papel desempenhado por este arquitecto e artista maltês no nosso país.
Limitando o nosso campo de discussão ao século XVIII, faremos aqui um breve resumo de tudo o que se sabe das relações arquitectónicas directas entre Malta e Portugal, acrescentando, quanto a Gimach, vários dados inéditos e algumas hipóteses.
A importância para Portugal da cultura arquitectónica de Malta no período barroco começou a adivinhar-se quando, no final do século XIX, um erudito local abriu um velho armário do Mosteiro cisterciense de Arouca e descobriu curiosa inscrição feita numa das suas portas em 1718: aí se dizia que a arquitectura da igreja conventual fora reformada anos antes pelo «architecto italiano Carlo Ginac».
Cedo se determinou que o artista se chamava afinal Gimac (grafia utilizada em Portugal para o nome Gimach) e era de Malta, não de Itália.
Carlos Gimach nasceu em Malta em 1651 e faleceu em Roma em 1730. Educado nesta cidade pelos Jesuítas na década de 1670, em pleno período do Alto Barroco romano, veio para Malta pôr-se ao serviço de dois Cavaleiros portugueses da Ordem de S. João, ricos aristocratas do Douro e da Beira como muitos outros que, fixados em Malta na corte dos Grão-Mestres, patrocinaram parte da boa arquitectura maltesa dos séculos XVII e XVIII: Gaspar Carneiro (act. em Malta 1678-1696) e António Correia de Sousa Montenegro (em Malta pelo menos desde 1647, f. 1696), ambos Chanceleres da Ordem e Bailios de Leça.».
in "Portugal e a Ordem de Malta...", de Martim de Albuquerque, 1992, pág. 319 e ss.

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

A Ordem de Malta e o Mundo

O presente livro, da autoria de Martim de Albuquerque, com cerca de 144 páginas, representa um guia introdutório geral sobre a Ordem Soberana e Militar de Malta, a sua História e a sua presença no Mundo de hoje.
Para além do mais, esta obra, mais uma obra da autoria de Martim de Albuquerque sobre a Ordem de Malta, possibilita uma maior e melhor percepção da dimensão e importância da Ordem de Malta no passado e no presente.

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Sernancelhe - Casa da Comenda da Ordem de Malta

Situada no Centro Histórico da vila e rodeada de alguns dos mais belos e antigos monumentos da região, a casa da Comenda é um magnífico exemplar da arquitectura do séc. XVII. A sua história associada ao desenvolvimento da Ordem Militar de Malta, que se instalou em Sernancelhe nos primórdios da nacionalidade e teve na Casa da Comenda o seu último Albergue.
A Ordem de Malta teve um papel preponderante na reconquista cristã e nas cruzadas do Ocidente e do Oriente, para além de ter acolhido e assistido, durante séculos, gente doente e carenciada.
A Casa da Comenda tem para sempre o seu nome inscrito na história dessa missão. Hoje, é na grandiosa e moderna unidade turística, que se sabe receber e convida a ficar.
É uma estância de turismo que dispõe de dez quartos com casa de banho completa e preparados para proporcionar o máximo de conforto, sala de jogos e garagem privativa.
Um amplo terraço, piscina, agradáveis espaços de passeio e a zona histórica circundante permitem ainda desfrutar de toda a tranquilidade e beleza características da região.
A casa da comenda está ao nível das melhores e mais modernas unidades turísticas do país. E tem o privilégio de estar situada numa região onde a história e a natureza se revelam numa grandiosidade inigualável.

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Rio Meão - Historiadores falam sobre o movimento Cruz de Malta

Colóquio servirá para explicar a importância desta ordem na freguesia no passado e no presente.

Um grupo de entusiastas da História de Rio Meão organiza nos próximos dias 7 e 8 de Outubro uma conferência subordinada ao tema “Ordem de Malta em Portugal e a Comenda de Rio Meão”. A iniciativa conta com o apoio da Junta de Freguesia local e da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e servirá como rampa de lançamento para a constituição da Associação de Cruz de Malta.
A Ordem de Cruz de Malta marcou a História de Rio Meão e isso está ainda bem presente pelos vestígios espalhados pelos cantos da freguesia. Símbolos que não passam despercebidos, mas que poucos sabem explicar. E é isso mesmo que se pretende fazer nos dias 7 e 8. Especialistas da matéria vão falar sobre o assunto e mostrar aquilo que foi e poderá ainda ser feito no âmbito da Ordem dos Cavaleiros da Cruz de Malta.
Este movimento, que outrora foi marcadamente militar, está hoje vocacionado para a solidariedade e para o apoio social, pelo que é nesta vertente que se espera fundar a futura associação Cruz de Malta de Rio Meão.
Para além do debate, está ainda programado, para o dia 8, uma missa e um concerto na igreja matriz.

segunda-feira, 31 de julho de 2006

Sobre a Ordem de Malta

Por acaso, ao pesquisar no google, encontrei alguns post's sobre a Ordem de Malta no desNorte, na sua maioria contendo assuntos que já aqui tratei. Contudo, não quero deixar de lhes fazer referência. Por isso, e com a devida vénia ao desNorte, ficam aqui os link's: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11.

sábado, 29 de julho de 2006

Marcos da antiga Comenda de Rio Meão

Ontem, ao fim-da-tarde, em mais uma das minhas visitas a Rio Meão, fiz uma pequena paragem nos limites da antiga Comenda de Malta (com Paços de Brandão) para averiguar da forma como foram colocados os marcos divisórios nesta Comenda e, já agora, para tentar encontrar alguns.
Em cinco minutos, seguindo a orientação adoptada na Comenda de Rossas (Arouca), e partindo doutro que já conhecia, ou melhor, que em Rio Meão todos conhecem, encontrei mais um marco (foto abaixo). Pese embora, ligeiramente inclinado (mas favorecido pela foto), trata-se de um belo exemplar em muito bom estado de conservação e perfeitamente perceptível.
Pese embora ainda não tenha tido acesso a nenhum Auto de Demarcação de Rio Meão, com base nestes dois exemplares, é possível concluir que a primeira Demarcação foi feita entre 1629 e 1630, tal como em Rossas (Arouca), e que o método adoptado foi idêntico ao seguido naquela antiga Comenda, de onde sou natural.
Ligeiramente diferentes dos marcos existentes em Rossas, os Marcos de Rio Meão, foram esculpidos em pedras de granito duro, sendo mais toscos no acabamento (o tipo de pedra adoptado nas demarcações varia consoante a pedra existente nas imediações, podendo ser utilizadas pedras de rochas distintas mesmo dentro da mesma Comenda. De resto, tal como sucede em Rossas, onde existem mesmo hábitos esculpidos em grandes rochas que coincidiam com os limites). A cruz de Malta sobressai de um quadrado rebaixado na pedra, figurando a data de 1629 logo abaixo.
Repare-se, que por esta altura (1629), Rio Meão e Frossos (em Albergaria-a-Velha) andavam associadas a Rossas que era a cabeça de Comenda

domingo, 23 de julho de 2006

Brasão dos Privilegiados de Malta
Placa de madeira plícromada, pintada a óleo JBA.

Rio Meão na Ordem de Malta

"Do reinado de D. Sancho I, há uma doação da Igreja de "Ryo Medyão" à Ordem de Malta possivelmente dos seus primeiros bens aqui.
Depois, foi engrossando o património ao receber doação após doação de avultados bens que lhe aumentaram o poder que fez surgir conflitos com o Bispo do Porto por causa do direito de visitação destas terras, tendo cessado quando entre si acordaram que a visitação corresse pela Ordem com reserva do bispo ao direito da aposentadoria pelos fregueses sempre que ele e sua comitiva cruzassem o seu aro. Embora se volte ao assunto com mais detalhe no momento próprio, desde já deixamos ao leitor sucintas referências.
Entre todos esses bens registe-se a notável doação feita por Ordónio, Ordonho ou Ordório Peres, de tudo quanto era senhor "em Vermoym e em Rjo mejãao".
Fernão Vasques, doa a Malta os bens que possuía aqui, como outros que terão dado origem à Comenda de Rio Frio, existente já em 1256 (1218), pois nos registos da Comenda de Leça consta "o escambo que fez o Spital com a rrajnha dona Mafalda em que deu à Rainha a Bailia de Rjo mejão, em sa vida por quanto ela auia en Bouças. E pelo mosteiro de Sam Salvador. E por Vilar de Sande..." Esta a primeira memória de já estar erecta a Comenda de Rio Meão dada em prestimónio à Santa Rainha, Infanta, D. Mafalda.
Consta dos escritos da época que, se não forem resultados das más linguas, os cavaleiros da Ordem de Malta a rodeavam de mesuras e ademanes na esperança de que das mãos dela lhe adviessem grossas doações. Ainda antes do séc. XIII, a Ordem de Malta recebeu as freguesia de Maceda e Arada que passaram a depender do Comendador de Rio Meão o que acontecia ainda em 1723..."
.
Homens e mulheres malparados, foliões.
"Foi ainda para nós grande escândalo que tenha havido nessa freguesia de se recolherem nela algumas mulheres e homens malparados que por se acharem culpados nos seus Bispados se abstenham para este isento para nele refugiarem seus delitos contra as disposições canónicas... e além disto costumam também... viverem dissolutos, absentando-se nas ocasiões em que podem ser punidos; e querendo subversões e desordens... ordenamos ao Reverendo Pároco... debaixo de suspensão não consinta na sua freguesia homem ou mulher alguma que vier de fora não tendo nela fazendas algumas ou outra justa causa; mas só com o desígnio de fugir à justiça e de dar exercicio à sua lascívia; e logo que souber dentro de três horas os despeje da terra condenando-os em 5 tostões pela primeira vez... e no caso de algum homem de fora vá a casa de alguma mulher de surpresa será ela também condenada da mesma pena dobrando-a conforme a contumácia, e a qualquer pessoa que (lhes) der casa ou asilo será condenada em dois mil reis...".
.
Em 12.10.1778, o dito visitador Dr. Vicente Lage adverte foliões:
"Alguns moços de fora costumam andar de noite com descantes de violas e de machetes incomodando o descanso e perturbando o povo, entrando em muitas casas em que se abrem as portas e servem de escândalo aos filhos e filhas dos lavradores pelo que ordenamos ao Reverendo Pároco não consinta semelhantes destravios por serem nutritivos de pecados e maus exemplos aos filhos família; e se algum dos lavradores lhes der entrada condenará em 5 tostões...".
.
As Tabernas, clérigos e outros frequentadores
Gozaram desde sempre de muito má fama e de algum proveito. Daí que contra esse, por vezes, cancro social se tivessem levantado as vozes das famílias e da igreja.
De 15.10.1738 datam estas disposições do visitador de Rio Meão:
"Grande escândalo dão às freguesias o haverem nelas vendas nas quais se dá jogo de bola e sendo a entrada em semelhantes casas de grande nota para aquelas pessoas que devem fugir delas e vivem como pede o seu estado sacerdotal o mais honrado, nobre e estimável, fui informado que algumas pessoas deste carácter não deixam de ir fazer as suas visitas nas ditas vendas e às portas delas estavam conversando publicamente com todas as pessoas que passavam pela estrada, o que é motivo feio e abominável, que é minha obrigação ordenar ao Reverendo Pároco ponha todo o cuidado em saber se os Reverendos sacerdotes vão jogar ou entram nas casas das vendas e os advirtam publicamente e não se emendando darão parte ao prelado para prover como for servido, e estes na forma do estilo advertidos. Dado em Rio Meão aos 15 de Outubro de 1738 eu o escrevi Padre António Pereira Fonseca, o visitador Francisco Ferreira da Silva, o Reitor Frei Manuel João Trindade."
in Ementa do Cruz de Malta Restaurante, Rio Meão, Santa Maria da Feira.
o desNorte, encontrado em 31.VII.2006, também se refere a este assunto.

terça-feira, 18 de julho de 2006

Personificação da Ordem de Malta
Óleo Século XVIII
Palácio das Necessidades, Lisboa

terça-feira, 11 de julho de 2006

Inimigos dos Cruzados, por Gustave Doré

Hospitalários vs Templários - VI

Em 1307, Filipe, o Belo, Rei de França, inicia o seu processo de extinção da Ordem dos Templários, apoiado pelo "seu" papa, Clemente V, o "pastor sem lei" que Dante colocou no Inferno. Filipe conhecera o poderio da Ordem quando esta lhe deu guarida ao se revoltar contra o seu pai; usando a táctica de apagar as dívidas matando os credores, conseguiu a extinção e tentou convencer todos os seus pares a fazer o mesmo. Por toda a Europa, com a Inquisição à perna, os templários são despojados dos seus bens, presos, torturados, acusados de apostasia, idolatria e de ritos satânicos entre os quais a prática de sodomia em rituais secretos de iniciação. Nas Ordenações Afonsinas, documento quatrocentista, ao condenar-se a sodomia explica-se que "por este pecado foi destruída a Ordem do Templo por toda a Cristandade em um dia". Do alto do cadafalso, o último mestre proclamou bem alto a sua inocência e profetizou que, antes de decorrido um ano, o papa e o rei estariam a prestar contas a Deus pelo sucedido, o que na realidade veio a acontecer.
O apelo papal não foi seguido logo em 1312, data da bula de extinção, por todos os reis cristãos; em Portugal, esta Ordem irá sobreviver; no nosso país de brandos costumes, logo D. Dinis, grato à sua acção e sem razão de queixa, consegue, após quatro anos de negociações com o Papa, um inteligente e diplomático artifício para a salvar criando uma nova ordem de cavalaria circunscrita ao seu Reino, de espírito e regra similares: em 1319, João XXII concede a bula que transforma esta Ordem na de Cristo, para defender o reino dos mouros, com transferência de graus, privilégios e bens, com sede em Castro Marim, na raia, transformada em casa-mãe por estar mais perto da moirama que era preciso expulsar. Só D. Pedro I, em 1357, consegue que a sede da ordem regresse a Tomar, após 36 anos de afastamento. A sua coragem permanece notória. Na sua regra, está escrito: "o cavaleiro de Cristo é um cruzado permanente empenhado num duplo combate: contra a carne e contra o sangue, contra as potências espirituais malignas nos céus. (...) Não receia nem homem nem demónio. (...) Avançai com firmeza e afastai os inimigos da Cruz de Cristo!".
A partir de 1418, é o Infante D. Henrique quem vai governar a Ordem de Cristo. Por nomeação pontifícia, torna-se também seu perpétuo administrador. O grão-mestre Vasco Fernandes e os outros cavaleiros de Cristo terão então um grande papel nos Descobrimentos, pois a sua regra é articulada de modo a poderem os cavaleiros participar nessa gesta com homens e fundos. Tal como a sua antecessora - a Ordem dos Templários - teve um grande papel na Reconquista, a Ordem de Cristo terá outro grande papel na Epopeia dos Descobrimentos, como suporte ideológico e material. A sua cruz irá então pelos mares, nas velas nacionais, a todos os continentes.
in SACADURA, João Paulo; Cunha, Rui - Património da Humanidade em Portugal - Volume I, Editorial Verbo, 2006, pág.140 e ss.
E a terra conquistada, o seu povoamento e defesa? Lançados ao mar, quem administra e protege a terra? Desse papel pouco se fala, mas a quem o desempenhou muito se deve. Falamos de uma outra Ordem, da Ordem dos Hospitalários. Mas, por ora, ficamos por aqui.

domingo, 9 de julho de 2006

Cruz da Ordem de Cristo

A cruz que normalmente vemos nas velas das Naus portuguesas do tempo dos Descobrimentos, em várias gravuras das batalhas e conquistas portuguesas, assim como na bandeira da ilha da Madeira, é a cruz da Ordem de Cristo que, em Portugal, depois de suprimida a Ordem dos Templários, foi criada por D. Dinis para suceder a esta última, evitando assim que todos os bens que lhe pertenciam fossem parar à Ordem dos Hospitalários, fazendo desta uma Ordem demasiado poderosa.
Condenação dos Templários à fogueira

Cavaleiros da Ordem do Hospital

Esta gravura, que não raras as vezes vemos associada à Ordem dos Templários (por exemplo: aqui e aqui), verdadeiramente, reporta-se à Ordem dos Hospitalários (mais tarde, de Malta). De resto, conforme se pode constatar pela cruz que ostentam.

Hospitalários vs Templários - V

Uma Cronologia sobre a Ordem dos Templários
1091 Nasce São Bernardo de Claraval.
1095 Urbano II proclama a I Cruzada.
1099 Godofredo de Bouillon toma Jerusalén.
1104 Hugo de Champagne vai pela primeira vez à Terra Santa.
1108 Hugo de Champagne vai pela segunda vez à Terra Santa.
1110 Presença de Hugues de Payns na Terra Santa.
1113 São Bernardo une-se a Cister.
1114 Terceira viagem de Hugo de Champagne à Terra Santa.
1115 Hugo de Champagne oferece terrenos à Ordem de Císter.
1118 Hugues de Payns e oito cavaleiros juntam-se com o objectivo de proteger os peregrinos na Terra Santa. Apresentação ante Balduino II.
1120 A confraria adopta o nome de "Pobres Cavaleiros de Cristo".
1124 Hugo de Champagne une-se aos templários em Jerusalém.
1128 O concilio de Troyes encarrega a São Bernardo a constituição de regras para a Ordem do Templo. De “Laude Novea Militiae " Exortação á nova milicia
1129 Data oficial da fundação da Ordem do Templo em 14 de Janeiro no concilio de Troyes.
1130 A Ordem converte-se no exército regular do reino de Jerusalém.
1136 Morre Hugues de Payns; sucede lhe Robert de Craon.
1138 Primeiro feito de armas na Terra Santa: derrota em Teqoa frente aos turcos. Os templários são exterminados.
1139 Omne datum optimum, bula do papa Inocencio II que dota a Orden de numerosos e exclusivos privilégios.
1142 Os Templários recebem a sua cruz como emblema.
1144 Proclama-se a II Cruzada.
1145 Novas bulas de Inocêncio II, Milites templi e Militia Dei, entre estes novos privilégios é lhes permitido construir castelos e oratórios próprios.
1148 Euvard des Barres, Mestre da Ordem, e os seus templários salvam o rei Luís VII no monte Kadmos.
1150 Novo Grão-mestre do Templo: Bernard de Trémelay.
1153 Eugénio III entrega-lhes a cruz vermelha sobre o hábito que se torna no distintivo da sua capa branca.
Tomada de Ascalón e morte do Mestre Bernard de Trémelay e quarenta dos seus templários.
Morre São Bernardo de Claraval.
1166 Doze templários são julgados e condenados por terem entregado uma fortaleza ao Islão.
1177 Oitenta templários participam na batalha de Montgisard, ganha a Saladino por Balduino IV, rei de Jerusalém.
1187 Proclama se a III Cruzada.
Na batalha de Hattin, cento e quarenta templários sob o comando de Gérard de Ridefort são feitos prisioneiros e executados por Saladino; Ridefort é perdoado. Saladino toma Jerusalén.1191 Os templários conquistam Chipre.
1202 Proclama se a IV Cruzada.
1215 Proclama se a V Cruzada.1219 A 5 de Novembro, heróica participação dos templários, ao lado dos cruzados de Juan de Brienne,na conquista de Damieta no delta do Nilo.
1223 Proclama se a VI Cruzada.
1231 Possivelmente os templários negoceiam em segredo com o Sultão de Damasco a devolução de Jerusalém.1244 Desastre de Forbie, em 17 de Outubro, no assedio de Gaza: de 348 templários só escapam 36. Derrotas e conflitos na Terra Santa, vitórias sem precedentes na Península Ibérica.1248 Proclama se a VII Cruzada.
1250 Em 8 de Fevereiro, Guillaume de Sonnac, Mestre da Ordem, morre na batalha de al-Mansura.
1254 Fim da sétima cruzada. Gregorio X tenta a fusão das ordens do Templo e do Hospital sem éxito ante a resistência do Mestre Jacques de Molay e do rei de Aragão.1268 Proclama se a VIII Cruzada.
1291 Caída de São João de Acre e perda definitiva da Terra Santa. Guillaume de Beaujeu morre no assédio de Acre e a elite da Ordem é aniquilada.
1294 Jacques de Molay, último Grão Mestre do Templo.
1297 O Templo empresta 2.500 libras a Felipe, O Belo.
1298 O Templo empresta 50.000 libras a Felipe, O Belo.
1301 Entrevista de Molay com Ramón Llull em Chipre.
1304 Calcula-se que a Ordem tenha 30.000 membros.
1305 Primeira denuncia contra os templários.
1307 A 13 de Outubro, detenção dos templários em toda a França. A 24 de Outubro é julgado o Mestre Jacques de Molay.
1310 Os templários julgados em Castela e Portugal são absolvidos. Em França, 54 templários são condenados a morte.
1312 A 3 de abril, a bula Vox clamantis dissolve a Ordem do Templo. Os bens são transferidos para a Ordem do Hospital. Concilio de Tarragona e absolvição dos templários catalano-aragoneses.
1314 Acaba o processo inquisitorial contra a Ordem, a 18 de Março, com a queima na fogueira do Mestre Jacques de Molay e Geoffroy de Charnay em París. Também morriam Felipe O Belo e o Papa Clemente V.

sábado, 8 de julho de 2006

Hospitalários vs Templários - IV

Considerando o clima histórico no qual nasce a Ordem do Templo, não surpreende que o papado, e em geral a sociedade cristã, tenha podido conceber a existência de uma ordem de frades habilitados para a guerra; tanto a Igreja quanto os titulares dos direitos senhoriais, expostos ao risco contínuo destas desordens sociais, viram na futura ordem religiosa a maneira de tornar institucional e permamente a experiência cruzada.
O concílio de Troyes, que abre em Janeiro de 1129 com a presença do legado apostólico Mateus d'Albano, proporciona uma óptima ocasião para se discutir sobre a constituição daquela ordem religiosa e militar; mas os problemas não são poucos nem de fácil solução. Não se trata de instituir simplesmente um corpo militar guiado por valores religiosos, é necessário encontrar o modo de dar canonicamente vida a uma ordem de frades habilitados para a guerra e para o homicídio.
Mas a sede apostólica estava a atravessar um momento extremamente delicado, em que a própria pessoa do papa estava em discussão; a proposta que chegava do longínquo Oriente, tão inovadora e tão explosiva em relação à tradição da Igreja, dificilmente poderia ter encontrado receptividade.
in BARBARA FRALE, Os Templários, Edições 70, Maio de 2005, pág. 27 e ss.

sexta-feira, 7 de julho de 2006

Peregrinos escoltados por cavaleiros do Templo avistam a cidade de Jerusalém.
Gravura do século XIX

Hospitalários vs Templários - III

Sentinelas
Após a conquista cristã a Cidade Santa foi colocada sob o comando de Godofredo, duque de Lorena, que a governou com o título de advogado do Santo Sepulcro e depois, após a sua morte, foi passado a Balduíno I que foi coroado rei pelo Patriarca de Jerusalém no dia de Natal do ano de 1100.
O Santo Sepulcro foi dotado de cónegos de confissão latina para assegurar a protecção das almas e o culto solene, os quais se juntaram ao clero de rito grego, que fora instituído na basílica de Anastácio nos séculos precedentes pelos imperadores bizantinos e nunca tinha abandonado o local, nem mesmo na fase mais dura da dominação islâmica.
Os monges de observância grega continuaram a residir na basílica e a oficiar o culto segundo a liturgia bizantina num altar a eles reservado; os clérigos latinos foram transformados em cónegos em 1114 pelo Patriarca Arnolfo de Chocques e assumiram a regra de Santo Agostinho.
Até a grande mesquita de al-Aqsa, conhecida como Cúpula da Rocha porque custodiava o bloco de pedra donde Maomé fora elevado aos céus, erigida junto às ruínas do templo de Salomão, recebeu para o culto um grupo de cónegos regulares agostinhos chamados cónegos do Templo.
Ao grupo que se ofereceu aos cónegos do Templo pertencia Hugo de Pays com alguns cavaleiros seus companheiros.
Em 1119 um terrível massacre de peregrinos junto ao Jordão abalou a sociedade cristã e o seu eco foi tão forte que chegou à Europa e recebeu particular relevo na crónica Alberto de Aix. No ano seguinte realizou-se uma importante assembleia de chefes cristãos na cidade de Nablus e os problemas defensivos do reino foram provavelmente o centro das discussões; nesse mesmo ano Balduíno II lançou um novo apelo à sociedade cristã, sublinhando que a Terra Santa necessitava de uma estrutura capaz de assegurar um serviço eficaz de policiamento.
Payns e os seus companheiros decidiran assumir um empenho religioso definitivo; segundo a crónica de Guilherme, arcebispo de Tiro, por volta de 1120 os três fizeram votos monásticos de obdiência, pobreza e castidade perante o Patriarca que lhes confiou oficialmente a missão de combater para proteger os peregrinos dos ataques dos salteadores islâmicos.
Doravante o grupo é conhecido e estimado pela população; naquele mesmo anos o conde Folques de Anjou, futuro rei de Jerusalém, vive algum tempo junto deles e antes de os deixar dá-lhes como esmola uma importante soma.
Balduíno II doou a Hugo de Payns e seus companheiros parte de um edifício usado nos primeiros tempos como palácio real, situado junto às ruínas do Templo de Salomão; os membros da irmandade passaram a ser chamados "Militia Salomonica Templi" e depois, mais tarde, Frates Templi ou Templarii.
(...)
Uma outra ordem religiosa fundada em Jerusalém alguns anos antes e votada aos cuidados a prestar aos peregrinos, o Hospital de São João, foi orientada no mesmo sentido e assumiu mais tarde uma função militar que era completamente estranha ao seu espírito originário.
in BARBARA FRALE, Os Templários, Edições 70, Maio de 2005, pág. 20 e ss.
Para saber mais:

quinta-feira, 6 de julho de 2006

O Massacre de Antioquia, por Gustave Doré (1832-1883)

Hospitalários vs Templários - II

Oh Deus, vieram os pagãos invadir a tua herança,
profanaram o teu santo templo,
reduziram Jerusalém a um monte de escombros!
lamento do Salmo LXXVIII
Em risco constante
(...)
Apesar de ocuparem grande parte do território da Palestina, os cruzados detinham o controlo de forma assaz precária e estavam constantemente expostos ao risco de agressão externa. Toda a rede viária estava constantemente infestada por salteadores que provinham de cidades egípcias, de beduínos do deserto e de refugiados muçulmanos descidos das montanhas que assaltavam os viajantes, depredando-os e massacrando-os.
As condições naturais do país não favoreciam a situação. A Palestina era uma região árida e pobre em recursos naturais, além de que o estilo de vida das gentes vindas da Europa, habituadas a uma alimentação abundante e hábitos de higiene sumários, incrementava a mortalidade, sobretudo da população infantil.
Em 1101 uma outra expedição partiu para auxiliar os débeis estados latinos da Terra Santa e nos anos imediatamente seguintes foram conseguidas importantes conquistas com a aquisição de Tripoli que, juntamente com outros territórios que continuavam em mãos islâmicas, possuía grande valor estratégico para a sobrevivência do reino, o que permitiu que as tropas cristãs de Jerusalém se reunissem às setentoriais de Edessa e Antioquia.
Não obstante estes esforços, em 1115 a situação era tal que Balduíno I foi obrigado a lançar um apelo à cristandade do Ocidente para que fosse povoar a Terra Santa.
O controlo da rede viária constituía verdadeira emergência, fosse para assegurar as portagens das caravanas mercantis que chegavam da rota oriental em direcção ao mar, ou para garantir a possibilidade de visitar os lugares santos, fulcro ideal do reino; mas as estradas representavam uma aventura arriscada: em 1102, quando Balduíno I tinha já providenciado o reforço da defesa do reino, o peregrino normando Saelwulf ficou aterrorizado pelos perigos da sua viagem, fazendo dela um relato impressionante.
in BARBARA FRALE, Os Templários, Edições 70, Maio de 2005, pág. 19 e 20.
Para saber mais:

segunda-feira, 3 de julho de 2006

Investidura de novos Cavaleiros da Ordem de Malta

No passado Sábado a vila alentejana do Crato recebeu mais uma investidura de novos Cavaleiros da Ordem Soberana e Militar de Malta. De salientar que a vila do Crato e o Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa foram sede da Ordem dos Hospitalários ou de Malta, tendo sido um dos lugares mais importantes da geografia portuguesa entre os séculos XIV e o século XV.
A investidura de novos Cavaleiros é sempre uma cerimónia bonita e repleta de simbolismo, onde os novos membros da Ordem cumprem as duas premissas religiosas, essenciais desta nobre instituição: "A defesa da Fé" e o "serviço aos pobres".
Numa cerimónia presidida pelo Conde de Alburquerque (actual principal da Ordem) houve ainda lugar à Santa Missa celebrada pelo Arcebispo Emérito de Braga, D. Eurico Dias Nogueira. Esteve ainda presente Sua Alteza Real o Infante D. Henrique de Bragança, em representação da Casa Real Portuguesa.
Um dia diferente na pacata vila do Crato que viveu assim, emoções e tradições de outros tempos, fazendo lembrar o peso que aquele lugar teve, como sede da Ordem Soberena e Militar de Malta, em Portugal.
.

Cavaleiros Portugueses da Ordem de Malta voltam ao Crato
A Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem Soberana e Militar de Malta visitou no dia 24 de Junho a vila do Grato, antiga sede do Priorado, para uma cerimónia de Investidura de novos Cavaleiros, na Igreja Matriz, um acontecimento que contou com as autoridades locais, Religiosas, sendo a Missa celebrada pelo Arcebispo de Braga, D. Eurico Dias Nogueiro. O programa incluiu os seguintes eventos.
Missa e Investidura de Cavaleiros - Igreja Matriz; almoço na Pousada de Flor da Rosa; deposição de flores no Monumento a D. Nuno Álvares Pereira; visita à Casa Museu Padre Belo; inauguração da exposição “Priorado do Crato” no Museu Municipal do Crato; a partir 20.30 horas, teve lugar uma Noite Cultural na Praça do Município gerando a amizade e cooperação entre estas duas entidades. Recorde-se que o Crato e Flor da Rosa foram sede da Ordem dos Hospitalários ou de Malta, e, consequentemente, um dos lugares mais prestigiados de todo o Portugal entre o séc. XIV e o séc. XVI, deixando monumentos únicos e de uma beleza inigualável como o Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa ou a Varanda do Grão-Prior.
A Ordem Soberana e Militar de Malta
A Ordem tem a sua origem num pequeno hospício fundado em Jerusalém, por volta de 1070, fruto de uma negociação estabelecida entre um grupo de comerciantes de Aroalfi (cidade perto de Nápoles), e o Califado do Egipto, de modo a albergar os peregrinos que demandavam aquelas paragens. Este hospício ficou inicialmente sob a jurisdição da Igreja Beneditina de Santa Maria Latina, com obediência à regra de São Bento. Em 1113 foi aprovada a instituição do Hospital de São João, pela Bula do Papa Pascoal II, Piae Postulationes, com a data de 15 de Fevereiro, dirigida ao Beato Gerardo (Principal Ordem).
Principal da Ordem
Em Portugal, a Ordem do Hospital de S. João marcou presença desde a fundação da nacionalidade, administrando politica e militarmente os territórios que lhe foram confiados (sobretudo no Alto Alentejo e na Beira Baixa), defendendo orgulhosamente as nossas fronteiras, contribuindo desse modo para a consolidação e afirmação da identidade nacional portuguesa.
História da Ordem em Portugal
Ao longo de nove séculos de vida, a Ordem Soberana e Militar de Malta afirmou-se no Conserto das Nações como um ente política e internacionalmente soberano, Sujeito de Direito Internacional Público, tendo por finalidade principal a de servir aqueles que sofrem e os mais carenciados, numa perspectiva Cristã e solidária, de dignificação do Homem. Nos nossos dias a Ordem tem um Embaixador acreditado, junto do governo português, é reconhecida pela ONU, UE, FAO, OMS, tendo representações diplomáticas a nível de embaixador com cerca de 100 Estados soberanos. A Ordem é uma Monarquia Constitucional chefiada por S.A.E. o Príncipe e Grão Mestre Frá Andrew Bertie, assistida pelo Soberano Conselho, e tem sede em Roma, Itália.
As Damas e Cavaleiros Portugueses integram a Assembleia
Portugueses da Ordem Soberana e Militar de Malta, Pessoa Colectiva de Utilidade Pública e Instituição Particular de Solidariedade Social, com sede em Lisboa, fundada em 1899, tendo sido o seu primeiro Presidente de Honra, El-Rei D. Carlos I - A Assembleia dos Cavaleiros Portugueses desenvolve Obras Assistenciais em prol dos mais desfavorecidos, nomeadamente na área da assistência médica e da formação, do Norte ao Sul do Pais, ao abrigo do Espírito Cristão baseado nas duas premissas “Obsequium Pauperum” e “ Tuitio Fidae”.A Cruz branca oitavada, símbolo da Ordem Soberana e Militar de Malta, é uma referência universal, de Paz, Concórdia e de Amor Cristão. in Ecclesia
recorte do Mapa das Cruzadas
Museu de Cluny,Paris
.

Hospitalários vs Templários - I

A origem dos Templários e dos Hospitalários. Ambiente histórico, religioso e social.

De 1085 a 1095, um decénio de calamidades naturais e de escassez abate-se sobre a Europa, marcando o imaginário colectivo do povo e induzindo os intelectuais a acreditar que o fim dos tempos estava próximo, a recordar as antigas profecias sobre a vinda do Anticristo.
Em 1089 e 1094 duas terríveis epidemias de varicela devastaram as regiões alemãs, provocando altíssimos picos de mortalidade em Ratisbona e na Baviera. A doença causou oito mil mortos em doze semanas e alguns bispos de uma aldeia completamente cheia de cadáveres, de tal modo que não podiam entrar. A mentalidade da época estava certa de que tais flagelos tinham uma função providencial, a de impelir o povo para a penitência e para a redenção; acredita-se na sugestão do sinal que induz as massas a converterem-se, visões de cometas, eclipses, prodígios e cruzes misteriosas que e formam sobre os ombros dos que se colocaram ao serviço de Deus, para manifestar a sua eleição.
A cruzada foi um fenómeno muito complexo de fé popular que envolveu completamente a sociedade europeia atingindo gente comum e impregnando profundamente a actividade dos maiores intelectuais.
A cruzada tinha-se desenvolvido por meio de expedições diversas conduzidas por grandes senhores feudais que alcançaram a Síria – Palestina de forma independente, por via marítima ou por terra. A 15 de Julho de 1099 Jerusalém, uma das maiores fortalezas do mundo medieval, era definitivamente conquistada após um terrível cerco, não sem que alguns bandos de cruzados tenham cometido chacinas sobre a população islâmica persa, contra as disposições tomadas pelos chefes para proteger os cativos.
Por volta do ano 1100, a estrutura dos estados cristãos da Terra Santa era formada por três blocos principais cuja extensão total desenhava uma estreita faixa litoral, que não se juntava no interior: além de Jerusalém, na parte meridional da região, havia mais a norte o principado de Antioquia e o condado de Edessa.
Balduíno era o filho mais novo e ao partir para a cruzada não pudera levar consigo um séquito de guerreiros fiéis, mas devia “herdar” os do séquito do seu irmão que optaram por não regressar à Europa; o contingente de cavaleiros de que podia dispor era formado ou por homens piedosos que tinham feito voto de ficar para sempre na Terra Santa, ou de aventureiros reunidos para enriquecer, e nem uns nem outros poderiam constituir um exército suficiente e fiável.

in BARBARA FRALE, Os Templários, Edições 70, Maio de 2005, pág. 16 e ss.

quinta-feira, 29 de junho de 2006

Hospitalários vs Templários

Pese embora a Ordem dos Hospitalários (mais tarde, de Malta) tenha perdurado quase até aos nossos dias, o certo é que não é tão conhecida como a Ordem dos Templários (do Templo), que foi extinta a 3 de Abril de 1312, pela bula Vox Clamantis. De resto, é o processo inquisitorial que antecede a sua dissolução que vem a suscitar enorme curiosidade e a conferir-lhe tamanha fama.
Por isso, será útil fazer a distinção entre as duas Ordens, assinalar o começo duma e doutra na Terra Santa, relatar alguns testemunhos da rivalidade entre elas existente, a sua entrada, presença e convivência em Portugal, o processo inquisitorial à Ordem dos Templários, a sua extinção e a continuidade da Ordem dos Hospitalários.

D. Pedro Manoel de Vilhena, sobrinho neto de D. Pedro Manoel de Vilhena

Árvore de costados de habilitação para admissão na Ordem de Malta de D. Pedro Manoel de Vilhena, sobrinho neto do Grão Mestre D. António Manoel de Vilhena
Museum of the Order of St. John, Londres
Século XVIII
.
Dada a frequente confusão que é feita em relação ao parentesco deste D. Pedro Manoel de Vilhena, nomeadamente, com D. Pedro Manoel de Vilhena e D. António Manoel de Vilhena, seus tios avós, o que, diga-se em abono da verdade, não é dificil suceder, vejamos a ascendência paterna de D. Pedro:
--D. Pedro Manoel de Vilhena (irmãos: D. Cristovão Manoel de Vilhena, D. António Manoel de Vilhena, D. João Manoel de Vilhena, Inês Manoel de Vilhena, D. Ana Manoel de Vilhena, D. Antónia Manoel de Vilhena, Henrique Manoel de Vilhena e D. Fernando Manoel de Vilhena), era filho de D. Sancho Manoel de Vilhena e D. Lourença Francisca de Melo.
--D. Sancho Manoel de Vilhena (Pai), era filho de D. Cristovão Manoel de Vilhena, 2º Conde de Vila Flôr, e de Joana de Mascaranhas.
--D. Cristovão Manoel de Vilhena (Avô), 2º Conde de Vila Flôr (irmãos: D. António Manoel de Vilhena, Grão-Mestre da Ordem de Malta, D. Henrique Severim Manoel de Vilhena, Francisco Manoel de Vilhena, D. João Manoel de Vilhena, D. Pedro Manoel de Vilhena, D. Maria Ana de Noronha), era filho de D. Sancho Manoel de Vilhena, 1º Conde de Vila Flôr, e de Ana de Noronha.
--D. Sancho Manoel de Vilhena (Bisavô), 1º Conde de Vila Flôr, era filho de D. Cristovão Manoel de Vilhena, Comendador de Macains e de Joana de Faria.
--D. Cristovão Manoel de Vilhena (Trisavô), era filho de Francisco Manoel de Vilhena, alcaide-mór de Portel, e de Beatriz da Silva Menezes.
.
D. Pedro Manoel de Vilhena (1722...), que antecede D. António Manoel de Vilhena (1723...) como Comendador de, entre outras, Frossos (Albergaria-a-Velha), Rossas (Arouca) e Rio Meão (Santa Maria da Feira), e D. João Manoel de Vilhena (1724...), que sucede a este último nestas mesmas Comendas, sobrinhos-netos do renomado Grão-Mestre.
Na imagem, Escudo com as armas dos Vilhenas, colocado no altar-mór da Igreja da Comenda de Rossas.

terça-feira, 27 de junho de 2006

Rio Meão prepara criação de Associação Cruz de Malta

A pré-apresentação deste projecto será em Outubro, durante um seminário sobre a história deste movimento.

Os estatutos estão alinhavados, pelo que está para breve a formalização da Associação Cruz de Malta, de Rio Meão. O projecto, de âmbito social está a ser preparado há mais de um ano, sendo que a sua pré-apresentação acontecerá em Outubro, altura em que se organizará um seminário sobre o movimento Cruz de Malta.
.
Rio Meão, vila pertencente a Santa Maria da Feira, foi uma das primeiras Comendas da Ordem de Malta em Portugal. Primeiramente, unida às de Frossos (Albergaria-a-Velha) e Rossas (Arouca), de que esta última era cabeça. Por isso, e para quem me conhece, não se estranhará a minha ligação a esta vila, também por esta via. Também já por lá andei a procurar os marcos que demarcavam e delimitavam Rio Meão, no tempo em que foi Comenda da Ordem de Malta. Conheço vários.
Contudo, outras ligações me fazem visitar e até permanecer frequentemente em Rio Meão. Hoje mesmo, deslocar-me-ei lá para participar no funeral do Reverendo Pároco da freguesia.
Joaquim de Sousa Lamas, foi o padre que paroquiou aquela freguesia, por mais de cinquenta anos. De resto, pessoa pela qual nutria grande simpatia e admiração.
Em cima, foto da Igreja medieval de Rio Meão, a ostentar, logo acima da porta principal, a Cruz de Malta.
.
Apesar de andar muito tempo associada às Comendas de Frossos e Rossas, Rio Meão, sempre ostentou uma cruz de Malta ligeiramente diferente daquelas que ostentavam aquelas outras duas e que vulgarmente vemos associadas à Ordem de Malta. Trata-se, na mesma, da cruz de Malta. Contudo, e não será alheio o facto de andar associada a outras Comendas, ligeiramente diferente.
Em cima, medalha condecorativa com a cruz de Malta ostentada por esta antiga Comenda de Rio Meão.
Tal como acontece noutras localidades, existem várias réplicas e reproduções por toda a vila e associadas a instituições. Também a heráldica da vila a ostenta em primeiro plano.

segunda-feira, 26 de junho de 2006

Sobre a entrada da Ordem em Portugal - III

Aspecto do Mosteiro de Leça do Bailio no século XIX
por António do Carmo Velho Barbosa, in Memoria Historica da Antiguidade do Mosteiro de Leça, chamada do Balio
(Porto, 1852)
Légua e meia para montante da foz do Leça, na margem esquerda do outrora límpido e famoso rio, tão celebrado, e que Francisco de Sá de Meneses, o da Malaca conquistada, cantou: - Ó rio Leça / Como corres manso! / Se eu tiver descanço / Em ti se começa -, já no século X existia um pequeno ascetério duplex, sob a invocação do Salvador do Mundo, anexado em 1013 ao Mosteiro da Vacariça, e ambos unidos, em 1094, à Sé de Coimbra, pelo Conde D. Raimundo - segundo dizem.
O certo é que a Condessa D. Teresa Afonso, mulher do Conde D. Henrique, doou este Mosteiro de Leça à Ordem do Hospital, em data que se não pode averiguar, mas depois de 1122 e decerto em 1128 (Rui de Azevedo, «Algumas achegas...», RPH, IV,I,pp. 325 e 327). Desde então foi durante largo tempo a casa-mãe da Ordem em Portugal. Em 23 de Julho de 1122, de facto, o Bispo do Porto, D. Hugo, isentava o Mosteiro de Leça do imposto do jantar, recebendo em troca um casal em Valbom, outro em Gondomar, e quatro em Susanis, das mãos do Prior D. Martinho - mas este não era da Ordem, ao contrário do que já se pretendeu (Cfr. Censual do Cabido do Porto, fl.89, p.340, da edição da Bib. Mun. do Porto; Nova Malta...,P.I, #15). Ora, «como é óbvio, o acordo antecedeu a doação, de data incerta, que D. Teresa fez do referido Mosteiro aos freires do Hospital»(Rui de Azevedo, «Algumas achegas...», RPH, IV,I, p.325.).
De qualquer forma, o Mosteiro já estava povoado pelos freires no primeiro quartel do séc.XII, «com muitas herdades, coutos e pertenças».
in ALBUQUERQUE, Martim de, "Portugal e a Ordem de Malta...", Edições Inapa, S.A. 1992. p.113 e 114.
Gravura alegórica com o retrato do Grão-Mestre Pinto da Fonseca, rodeado pela Religião, Minerva, a Fama e a História.

quinta-feira, 22 de junho de 2006

Sobre a entrada da Ordem em Portugal - II

José Anastácio de Figueiredo Ribeiro publicara 5 anos antes, em 1793, a sua História da Ordem do Hospital, de que só saiu a Parte 1, até ao fim do reinado de D. Sancho II, primeira tentativa crítica da história da Ordem, pois a obra de Frei Lucas de Santa Catarina, ficara também incompleta e merecia pouca confiança na apreciação dos documentos que alegou, errando datas, aceitando diplomas falsos ou apócrifos.
José Anastácio de Figueiredo haveria de refundir aquele seu primeiro estudo, no ano de 1800, nos volumes vulgarmente denominados de Nova Malta onde, apesar da falta dos cartórios já por ele e por João Pedro Ribeiro apontada, produziu eruditíssimo trabalho.
Logo a primeira dificuldade foi a de se averiguar quando a Ordem entrou em Portugal. O Códice trecentista, referido por J. P. Ribeiro, e que José Anastácio denomina Antigo Registro de Leça, sumaria os documentos fundamentais, em lacónicas ementas, sempre sem datas. Os erros acastelam-se.
Aponta-se uma doação de Idanha, feita em 1 de Fevereiro de 1106? a D. Egas Gosendes ou Gondesendes e a D. Mourão Gosendes (ou Gondesendes), e a suas mulheres, passando depois deles à Ordem do Hospital. Tal doação, porém, mereceu a Carl Erdmann o juízo de «cronológica e objectivamente impossível e presumivelmente uma falsificação»(in A ideia de cruzada em Portugal, Coimbra, Instituto Alemão da Univ. de Coimbra, 1840), veredicto que Rui de Azevedo não teve dúvida em perfilhar (in «Algumas achegas para o estudo das origens da Ordem de S. João do Hospital de Jerusalém...», in Revista Portuguesa de História, tomo IV, vol.I (1949), pp.317ss.).
Referem-se ainda outras doações de D. Teresa, em datas incertas, mas anteriores a 1128, tais como Goja (S. Pedro do Sul), Cortegaça (Mortágua), herdades entre Bobadela e Oliveira, e outras, mas pelo menos estas últimas liberalidades foram praticadas pela «rainha» D. Teresa, filha de Sancho I (in «Algumas achegas...», RPH, IV,I,p.326.).
De qualquer forma, parece certo que os Hospitalários entraram em Portugal no primeiro quartel do século XII ou logo após, pouco depois da Ordem do Templo. E aqui, com o decorrer dos anos, tiveram grandes herdades e rendas, prestaram notabilíssimos serviços aos nossos primeiros reis na reconquista aos infiéis, e na colonização da terra.
in ALBUQUERQUE, Martim de, "Portugal e a Ordem de Malta...", Edições Inapa, S.A. 1992. p.110 e ss.

terça-feira, 20 de junho de 2006

Sobre a entrada da Ordem em Portugal

É bastante incerta quanto a Portugal a História dos Hospitalários de Jerusalém nos primeiros tempos.
A quase total destruição dos seus cartórios em 1662, durante a incursão de D. João da Áustria no Crato, não permite esclarecer sequer quando vieram ao condado portucalense e aqui estabeleceram sua casa, quem a doou e coutou.
João Pedro Ribeiro, nas Observações de Diplomática, escrevia já em 1798:
«O cartório da Baliagem de Leça merece bem o título de cartório da confusão. O livro dos Privilégios de 1740 não contem quase documento que pela sua data o não faça suspeitoso. A carta de couto feita pelo Senhor D. Afonso Henriques data da Era de 1148 e a sua confirmação em 1165 não convem com nenhum dos Bispos confirmantes. Uma concórdia dos Hospitalários com o Bispo D. Pedro tem a confirmação de El Rei D. Afonso que não reinava na Era de 1271; outra dos mesmos com o Bispo D. Julião, datada da Era de 1289 tem a confirmação do Senhor D. Dinis e de Santa Isabel, e ambas se fazem suspeitosas pelo seu contexto. No Tombo do ano de 1765 se acham outras cópias, uma da Era de 1374, muito viciada. As mesmas inscrições antigas dos sepulcros que se acham naquela igreja (de Leça) estão transladadas neste Tombo com muitos erros. Acha-se neste Cartório um Índice, mas já truncado que mostra (...) foi o geral da Ordem de Malta em Portugal: é um Livro em fólio de pergaminho, escrito em duas colunas, com iniciais magnificamente debuxadas. Trás primeiramente o que é geral à Ordem; depois, em artigos separados, o que respeita a cada comenda e principado por Leça; seguindo em cada artigo numeração separada de documentos. Compreende actualmente 73 folhas e é um mero Mostrador ou Repositório de títulos (Nenhum deles existe actualmente ali, nem em outro cartório da Ordem, nem na Torre do Tombo, sendo aliás muito interessantes; talvez algum Grão Mestre os mandasse recolher em Malta), apontando só o seu assunto, sem especificar datas. A letra mostra ser do reinado do Senhor D. João I; mas para nem aqui faltar a confusão, se lê no frontispício, em letra moderna, que este livro foi mandado fazer pelo Balio de Leça, Fr. Cristóvão de Cernache Pereira, Grão Chanceler da Ordem, e se lhe assina a data que parece ser de 1551, pois está escrita em algarismo exótico e de que não há outro exemplar nas nossas antiguidades».(in RIBEIRO, João Pedro, "Observações históricas e críticas, para servirem de memórias ao sistema da Diplomática Portuguesa", 1798, p.35.).
in ALBUQUERQUE, Martim de, "Portugal e a Ordem de Malta...", Edições Inapa, S.A. 1992. p.110.

quarta-feira, 14 de junho de 2006

Comendas existentes em finais do séc.XVIII

Segundo o códice da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, a Ordem de Malta teria, ao tempo em que era Prior do Crato o Infante D. Pedro (futuro D. Pedro III), além do Priorado do Crato e da Bailiagem de Leça, as seguintes comendas:
Vera Cruz, S. João de Alporão, Elas e Montouto, Algoso, Távora, Oleiros, Oliveira do Hospital, Poiares, Rossas, Barrô, Vila Cova, Moura Morta, Corveira, Águas Santas, Chavão, Sernancelhe, Fregim, Torres Vedras, Ansemil, Covilhã, Trancoso, Aldeia Velha, Fontes
.
Já o Pe. António Lourenço Farinha, sem indicação de fonte, refere que nos finais do século XVIII a Ordem tinha 32 comendas não contando com o Grão Priorado do Crato e comendas anexas, apontando um rendimento anual na casa de 95 contos, quantia impressionante para o tempo:
Leça e Lango, Acre e Fregim, Abreiro, Águas Santas, Barró, Vera Cruz, Sernancelhe, Chavão, S. Cristovam, Covilhã, Elvas e Montoito, Santa Eulália, Freixiel, Fontes, Frossos e Rossas, S. João de Carvoeira, Alvações, Aldeia Velha, Algoso e Moura Morta, Ansemil, Moura Morta, Oleiros, Oliveira do Hospital, Poiares, Rio Meão, S. João de Alporão, Tavora, Torres Vedras, Trancoso, Vila Cova, Vilarinho dos Freires, Vera Cruz e Portel.
.
Uma pesquisa recente, além do Bailiado de Leça e do Priorado do Crato - possuidor ele próprio de 25 comendas - inventaria mais de setenta comendas distribuídas por diversas épocas.

terça-feira, 13 de junho de 2006

Castelo de Sernancelhe, Sernancelhe, Viseu

 
As ruínas daquele que foi o Castelo de Sernancelhe localizam-se na povoação, freguesia e concelho de mesmo nome, no distrito de Viseu.
Erguido no extremo Sul da região do Douro, vizinho à serra da Lapa e ao caminho que ligava a Guarda a Lamego, guardava a foz do rio Távora no século X.
A primitiva ocupação humana de seu sítio remonta ao Neolítico, posteriormente romanizada. Remonta a 960 a noticia sobre a primitiva fortificação de Sernancelhe. Por via de seus testamento D. Flâmula manda vender os seus castelos de Riba Douro e Sernancelhe. Em finais do século X, a fortificação de Sernancelhe é tomada por Almansor e, posteriormente, reconquistado pelos cristãos quando em 1055 o rei Leonês Fernando I expulsa os mouros da região. A 26 de Outubro de 1124 é atribuído o primeiro foral a Sernancelhe, que viria a ser confirmado por D. Afonso II no ano de 1220. Em 1514 D. Manuel I deu novo foral ao concelho, sem que tenha introduzido alterações importantes.
No imaginário popular local persistem as lendas sobre as lutas entre cristãos e mouros, que remontam à época da Reconquista. Foi então, nesse contexto, reconstruída a fortificação de Sernancelhe pelos Cavaleiros da Ordem dos Hospitalários, em pedra de granito.
Actualmente, embora a suas ruínas não estejam classificadas, nem constem dos atuais roteiros turísticos da Câmara Municipal, vale a pena passar pelo local e observar muito do que ainda subsiste, nomeadamente alguns muros ameados e a Porta do Sol.
Sernancelhe conheceu ao longo da sua história várias alterações administrativas que modificaram por completo a organização do município. Fonte Arcada, Lapa, Vila da Ponte e Sernancelhe chegaram a ser vilas, tiveram juiz, tabelião, escrivão, almotacés e sargento-mor de ordenanças. A Fonte Arcada D. Sancha Vermuiz concedeu foral em 1193. Nas inquirições de D. Dinis, o julgado de Fonte Arcada possuía seis aldeias. No ano de 1855 o concelho é extinto e as suas terras são incorporadas no de Sernancelhe.

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Demarcação territorial

Os territórios pertencentes à Ordem de Malta eram delimitados com Marcos de Pedra em todo o seu redor. A imagem supra é de um desses marcos, que ainda hoje se encontra no seu local original, nos limites da freguesia de Rossas, concelho de Arouca. De resto, ainda recentemente (de 2003 a 2005) foram achados e inventariados 22 marcos dos 46 referidos no Auto de Demarcação de 1630. Na maior parte dos casos, encontram-se no sítio original e em bom estado de conservação.
"A demarcação de 1630 foi realizada em três etapas. Iniciou-se no dia 18 de Janeiro desde a Ponte Ribeira até à Pedra Má, pelo lado de Santa Marinha de Tropeço e Várzea; continuou no dia seguinte, partindo da pedra Má até ao rio que vem da Póvoa, dividindo Rossas das freguesias de Várzea e S. Miguel de Urrô; ultimou-se no dia 16 de Fevereiro, começando “na banda d’alem do rio da Póvoa ao fundo do Alqueve” e terminando na Ponte Ribeira, dividindo Rossas da parte que faltava de S. Miguel de Urrô e das freguesias de Cepelos e Chave. No decorrer de toda a linha divisória foram levantados quarenta e um marcos e, além disso, abriram-se cinco hábitos de Malta em penedos existentes nos limites. Os marcos, com excepção talvez de dois, eram de granito com forma de paralelepípedos e com uma das faces trabalhada. Na parte superior desta face sobressai, duma zona circular cavada, uma cruz de Malta em relevo. Logo abaixo do círculo abriu-se em todos a data 1629. Nos penedos aproveitados como marcos abriu-se apenas o hábito, isto é, cavou-se um círculo deixando a cruz em relevo, e gravou-se por baixo a mesma data.
A face trabalhada dos marcos ficou voltada para as terras da freguesia e a direcção da esquina direita dessa face, indicava o sentido da divisória, segundo a ordem da colocação dos marcos. Dos que sobejam, nem todos estão de acordo com esta orientação.
A demarcação realizou-se em 1630. Os marcos têm gravado a data 1629. Tinham sido preparados nesse ano e com tal data, na ideia de que a demarcação se realizaria em 1629. Foi adiada para 1630. Daí, a divergência da data gravada nos marcos com a data da demarcação.Para além desta, nesta Comenda, foram ainda realizadas Demarcações em 1656, 1702 e 1769."

in "Rossas - Inventário Natural, Patrimonial e Sociológico", de A. J. Brandão de Pinho.

Heráldicas - marcas actuais de uma presença passada

Fregim é uma freguesia do concelho de Amarante, com 8,47 km² de área e 2 507 habitantes (2001). Densidade: 296,0 hab/km².











Águas Santas é uma vila no concelho da Maia, com 7,86 km² de área e 25 249 habitantes (2001). Densidade: 3 212,3 hab/km².
Alcafache é uma freguesia do concelho de Mangualde, com 12,94 km² de área e 1 029 habitantes (2001). Densidade: 79,5 hab/km².

terça-feira, 6 de junho de 2006

Leça do Balio é uma freguesia do concelho de Matosinhos, Distrito do Porto, com 8,88 km² de área e 15 673 habitantes (2001). Densidade: 1 765,0 hab/km². Até 13 de Maio de 1999, a sua designação oficial era de Leça do Bailio.
Foi sede do antigo couto de Leça do Balio que existiu entre 1123 e 1835. Era constituído pelas freguesias de Aldoar, Custóias, Infesta e Leça do Balio. Tinha, em 1801, 2 982 habitantes.






Rossas é uma freguesia do concelho de Arouca, Distrito de Aveiro, com 16,23 km² de área e 1 693 habitantes (2001). Densidade: 104,3 hab/km².









Maceda é uma freguesia do concelho de Ovar, com 15,34 km² de área e 3 687 habitantes (2001). Densidade populacional: 240,35 habitantes/km². Foi elevada a vila a 13 de Maio de 1999.
A mais antiga referência conhecida sobre Maceira data de 1053, em que expressamente se faz excepção às terras situadas entre a «vila de Parâmio» e a «vila de Mazaneda». Outros documentos, datados de 1055 e 1063, referem-se igualmente a esta freguesia, respectivamente, com os nomes Manzaneta e Mazaneda. O actual nome de «Maceda» parece, aliás, ter derivado do baixo latim, onde Mattiana dá lugar a Mattianeta.
No século XII Maceda tem já igreja paroquial documentada, que terá sido doada aos Hospitalários, ainda antes do século XIII, conforme se pode verificar em documento encontrado no antigo cartório de Leça por José Anastácio de Figueiredo.
Mais tarde, como refere Paulo de Niza, em Portugal Sacro e Profano, Tomo II, de 1768, a paróquia dependia do Comendador da Ordem de Malta de Rio Meão, prolongando-se até ao momento em que, por nova divisão eclesiástica, foi transferida para a diocese do Porto.
Sinais da presença da Ordem de Malta podem ser verificados ainda hoje nos marcos de granito datados de 1629 e encimados pela cruz maltina, existentes no limite da freguesia, a nascente, com Espargo, São João de Ver e Rio Meão. Também na actual Igreja Matriz sobrelevando a porta principal, podemos observar a cruz maltina, talhada em granito, muito embora o templo tenha sido construído no século XX (em 1923).

Frossos é uma freguesia do concelho de Albergaria-a-Velha, Distrito de Aveiro, com 7,95 km² de área e 964 habitantes (2001). Densidade: 121,3 hab/km².
Foi vila e sede de concelho entre 1124 e 1836. Era constituído apenas pela freguesia da sede e tinha, em 1801, 378 habitantes. Em 1836 a freguesia foi anexada ao concelho de Angeja, também entretanto suprimido.





Sernancelhe é uma vila do Distrito de Viseu, Região Norte e subregião do Douro, com cerca de 1 200 habitantes.
É sede de um município com 231,42 km² de área e 6 227 habitantes (2001), subdividido em 17 freguesias. O município é limitado a norte pelos municípios de Tabuaço e São João da Pesqueira, a leste por Penedono e Trancoso, a sul por Aguiar da Beira, a sudoeste por Sátão e a noroeste por Moimenta da Beira.

Oliveira do Hospital é uma cidade no Distrito de Coimbra, região Centro e subregião do Pinhal Interior Norte, com cerca de 4 400 habitantes.
É sede de um município com 234,55 km² de área e 22 112 habitantes (2001), subdividido em 21 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Nelas, a leste por Seia, a sul por Arganil, a oeste pela Tábua e a noroeste por Carregal do Sal.
Nasce a actual sede de concelho na época da 2ª. Cruzada, quando, em São João de Jerusalém, na Terra Santa, é fundado um hospital que irá receber os peregrinos doentes, estropiados e vítimas, por vezes, de ataques e assaltos em tão longa caminhada que os levará junto do Santo Sepulcro.

Oliveira do Hospital é uma freguesia do concelho de Oliveira do Hospital, com 8,77 km² de área e 4 390 habitantes (2001). Densidade: 500,6 hab/km².
O primitivo nome da povoação havia sido Ulvária, que significa terreno alagadiço onde há ulvas (plantas que se desenvolvem naquele ambiente); de Ulvária terá derivado para Ulveira ou Hulueira e daqui, por analogia, deturpação ou afinidade sónica, para Oliveira. O nome “do Hospital”, ou “do Espital” resulta exactamente da atribuição de uma Comenda à Ordem dos Monges de São João de Jerusalém, a Ordem dos Hospitalários.
Os Monges desta Ordem (a mais importante e estimada das três Ordens militares que se fundaram em Jerusalém após a tomada e recristianização desta cidade pelos Cruzados, a 15 de Julho de 1099), pela relevância da sua benemérita vocação, não só se espalharam pelos diversos territórios onde a reconquista cristã ainda não tinha terminado, como também, por reconhecimento do seu mérito, são prodigamente amparados pelas frequentes doações e heranças com que reis e grandes dignatários da corte os contemplam. Foi assim que, no ano 1120 ou 1122, segundo referem alguns autores, a rainha D. Teresa, na menoridade de seu filho D. Afonso Henriques, fez doação de um povoado chamado Vlueyra do Spital aos cavaleiros da Ordem dos Hospitalários. in "Notas Históricas", JFOH

Oleiros é uma vila pertencente ao Distrito de Castelo Branco, região Centro e subregião do Pinhal Interior Sul, com cerca de 2 500 habitantes.
É sede de um município com 465,52 km² de área e 6 677 habitantes (2001), subdividido em 12 freguesias. O município é limitado a norte pelo município do Fundão, a leste por Castelo Branco, a sul por Proença-a-Nova, a sudoeste pela Sertã e a noroeste por Pampilhosa da Serra.


O Estreito é uma freguesia do concelho de Oleiros, com 68,73 km² de área e 969 habitantes (2001). Densidade: 14,1 hab/km².

Oleiros é uma freguesia do concelho de Oleiros, com 119,39 km² de área e 2 470 habitantes (2001). Densidade: 20,7 hab/km².

Proença-a-Nova é uma freguesia do concelho de Proença-a-Nova, com 153,67 km² de área e' 11 675 habitantes (2001). Densidade: 30,4 hab/km².









O Crato é uma vila no Distrito de Portalegre, região Alentejo e subregião do Alto Alentejo, com cerca de 1 800 habitantes.
É sede de um município com 388,03 km² de área e 4 348 habitantes (2001), subdividido em 6 freguesias. O município é limitado a nordeste pelos municípios de Gavião, Nisa e Castelo de Vide, a leste por Portalegre, a sueste por Monforte e a sudoeste por Alter do Chão e Ponte de Sor.
A vila do Crato é povoação muito antiga, com testemunhos arqueológicos que remontam ao megalitismo. A existência de duas antas, provam que o território foi povoado desde o Neolítico. Neste local existiu uma outra povoação, que se crê edificada pelos cartagineses.
Da época do domínio romano, existem as pontes das ribeiras de Seda e Chocanal e os restos da ''vila'' romana da Granja. Passou pelo domínio godo. No séc. VIII os árabes desbarataram os godos e destruíram Crato (716). Permaneceu em poder dos mouros até à conquista de D. Afonso Henriques (1160), que reedificou a povoação. No reinado de D. Sancho II, o Crato achava-se de novo arruinado, pela luta entre cristãos e mouros. Com a preocupação do repovoamento, D. Sancho II cedeu aos cavaleiros da Ordem do Hospital um extenso território que daria origem mais tarde a uma nova povoação que, por determinação do rei se chamaria ''Ucrate'' (0 Crato).
No séc. XVI passou a ser sede da Ordem do Hospital, mais tarde chamada de Malta. O então Mestre da Ordem D. Álvaro Gonçalves Pereira, o primeiro a usar o titulo de Prior do Crato, foi quem deu começo à fortificação que estava arruinada. Foi, porém, D. Nuno de Góis, quem mandou executar as grandes obras de fortificação. Em 29 de Junho de 1662 D. João de Áustria, cercou e exigiu a rendição do Crato. Estas forças saquearam e incendiaram a Vila. A recuperação foi lenta. Hoje o Crato cuida e conserve quanto sobrou, de um passado riquíssimo.

O Crato e Mártires é uma freguesia do concelho do Crato, com 169,11 km² de área e 1 804 habitantes (2001). Densidade: 10,7 hab/km².

O Gavião é uma vila no Distrito de Portalegre, região Alentejo e subregião do Alto Alentejo, com cerca de 1 800 habitantes.
É sede de um município com 293,55 km² de área e 4 887 habitantes (2001), subdividido em 5 freguesias. O município é limitado a oeste e norte pelo município de Mação, a leste por Nisa, a sueste pelo Crato, a sudoeste por Ponte de Sôr e a oeste por Abrantes.
Gavião recebeu foral de D. Manuel I em 23 de Novembro de 1519.
O seu povoamento terá começado por volta do século XII, quando o território estava incluído no termo de Guidintesta, uma vasta região compreendida entre os rios Tejo e Zêzere, doada por D. Sancho I à ordem dos freires-cavaleiros de S. João do Hospital com o intuito da salvaguarda do território das investidas muçulmanas
Ao contrário de outras povoações, Gavião foi aumentando a sua importância com o decorrer dos séculos, como demonstra o Foral de 23 de Novembro de 1519, durante o reinado de D. Manuel I, que instituiu a vila e, por arrastamento dotou-a de todos os privilégios e direitos inerentes à categoria de concelho. in www.cm-gaviao.pt