É bastante incerta quanto a Portugal a História dos Hospitalários de Jerusalém nos primeiros tempos.
A quase total destruição dos seus cartórios em 1662, durante a incursão de D. João da Áustria no Crato, não permite esclarecer sequer quando vieram ao condado portucalense e aqui estabeleceram sua casa, quem a doou e coutou.
João Pedro Ribeiro, nas Observações de Diplomática, escrevia já em 1798:
«O cartório da Baliagem de Leça merece bem o título de cartório da confusão. O livro dos Privilégios de 1740 não contem quase documento que pela sua data o não faça suspeitoso. A carta de couto feita pelo Senhor D. Afonso Henriques data da Era de 1148 e a sua confirmação em 1165 não convem com nenhum dos Bispos confirmantes. Uma concórdia dos Hospitalários com o Bispo D. Pedro tem a confirmação de El Rei D. Afonso que não reinava na Era de 1271; outra dos mesmos com o Bispo D. Julião, datada da Era de 1289 tem a confirmação do Senhor D. Dinis e de Santa Isabel, e ambas se fazem suspeitosas pelo seu contexto. No Tombo do ano de 1765 se acham outras cópias, uma da Era de 1374, muito viciada. As mesmas inscrições antigas dos sepulcros que se acham naquela igreja (de Leça) estão transladadas neste Tombo com muitos erros. Acha-se neste Cartório um Índice, mas já truncado que mostra (...) foi o geral da Ordem de Malta em Portugal: é um Livro em fólio de pergaminho, escrito em duas colunas, com iniciais magnificamente debuxadas. Trás primeiramente o que é geral à Ordem; depois, em artigos separados, o que respeita a cada comenda e principado por Leça; seguindo em cada artigo numeração separada de documentos. Compreende actualmente 73 folhas e é um mero Mostrador ou Repositório de títulos (Nenhum deles existe actualmente ali, nem em outro cartório da Ordem, nem na Torre do Tombo, sendo aliás muito interessantes; talvez algum Grão Mestre os mandasse recolher em Malta), apontando só o seu assunto, sem especificar datas. A letra mostra ser do reinado do Senhor D. João I; mas para nem aqui faltar a confusão, se lê no frontispício, em letra moderna, que este livro foi mandado fazer pelo Balio de Leça, Fr. Cristóvão de Cernache Pereira, Grão Chanceler da Ordem, e se lhe assina a data que parece ser de 1551, pois está escrita em algarismo exótico e de que não há outro exemplar nas nossas antiguidades».(in RIBEIRO, João Pedro, "Observações históricas e críticas, para servirem de memórias ao sistema da Diplomática Portuguesa", 1798, p.35.).
in ALBUQUERQUE, Martim de, "Portugal e a Ordem de Malta...", Edições Inapa, S.A. 1992. p.110.
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