domingo, 27 de outubro de 2013

D. Nuno Álvares Pereira, feito São Nuno de Santa Maria, nascido e criado no seio da Ordem dos Cavaleiros de São João de Jerusalém

A poucos dias de se assinalar mais um aniversário do falecimento de D. Nuno Álvares Pereira, hoje dito São Nuno de Santa Maria, e neste tempo em que as boas referências e os grandes exemplos de vida nos parecem faltar, aproveitamos para discorrer um pouco sobre a proximidade e ligação deste nobre e famoso cavaleiro à Ordem Militar do Hospital de São João de Jerusalém e de Rodes, como em seu tempo se denominava a Ordem de Malta.

D. Nuno Álvares Pereira
D. Nuno, de seu nome Nuno Álvares Pereira, também conhecido como o Santo Condestável, Nun’Álvares, Beato Nuno de Santa Maria (Beatificado em 23 de Janeiro de 1918) e, mais recentemente, São Nuno de Santa Maria (Canonizado em 26 de Abril de 2009), de acordo com a maioria dos historiadores, nasceu a 24 de Junho de 1360, no Paço do Bonjardim, Sertã, ou, de acordo com alguns autores, em Flor da Rosa, Crato; Paço e Fortaleza melhorados e acrescentados à Ordem dos Hospitalários por seu pai, D. Frei Álvaro Gonçalves Pereira, enquanto Prior do Crato. Faleceu, com 71 anos, a 01 de Novembro de 1431, em Lisboa.
 
O primeiro Prior do Crato, denominação do mais alto representante da Ordem em Portugal, que se seguiu à Batalha do Salado, travada em 1340, à de Prior do Hospital (Grão-Prior é uma denominação introduzida mais tarde por D. Luís de Portugal, filho de D.Manuel I), é apontado como tendo sido D. Frei Álvaro Gonçalves Pereira, que mandou construir o Mosteiro da Flor da Rosa, onde os seus restos mortais repousam em túmulo, ao qual sucedeu o seu filho mais velho D. Pedro Álvares Pereira, pai e irmão, respetivamente, de D. Nuno Álvares Pereira, futuro Condestável do Reino.
 
De acordo com os autores mais renomados (por todos, Frei Lucas de Santa Catarina, Memórias das Ordem Militar de S. João de Malta… (1734); Pascoal José de Mello Freire, Dissertação histórico jurídica sobre os direitos e jurisdição do Grão Prior do Crato e do seu provisor… (1786), José Anastácio de Figueiredo Ribeiro, Nova História da Ordem de Malta e dos Senhores Grão-Priores Dela em Portugal… (1793) e Paula Maria de Carvalho Pinto da Costa, A Ordem Militar do Hospital em Portugal… (1993)), que se referem e/ou elencam os Priores do Crato, D. Nuno Álvares Pereira, nunca foi Prior do Crato, nem sequer terá integrado a Ordem do Hospital, de S. João ou dos Hospitalários, como então era mais conhecida entre nós, mesmo como mero Cavaleiro, embora tenha nascido e crescido no seio desta Ordem, nomeadamente, na casa de seu pai, em Flor da Rosa, onde terá vivido pelo menos até aos 13 anos, tendo aí aprendido as artes militares e ganho o gosto pela leitura, sobretudo pelos livros de Cavalaria.
 
Com efeito, em vida de D. Nuno Álvares Pereira, gozaram daquela Dignidade os seguintes membros da Ordem: D. Frei Álvaro Gonçalves Pereira, que foi o primeiro denominado Prior do Crato, ao qual se seguiram: D. Frei Pedro Álvares Pereira, filho do antecedente, como já se referiu; D. Frei Álvaro Gonçalves Camelo, em tempo de D. João I; D. Frei Lourenço Esteves de Gois, no mesmo tempo; D. Frei Nuno de Gois, no mesmo tempo; D. Frei Henrique de Castro, no tempo de D. Afonso V; D. Frei Vasco de Ataíde, no mesmo Reinado; D. Frei Diogo Fernandes de Almeida, em tempo de D. João II; D. Frei João de Menezes, que serviu também a D. João II e El-Rei D. Manuel I.
 
D. Nuno Álvares Pereira, contava 13 anos de idade quando entrou para a corte do rei D. Fernando I, onde foi feito Cavaleiro com uma armadura emprestada por D. João, Mestre da Ordem de Avis. Aos 16 anos, em 15 de Agosto de 1376, casou-se com Dona Leonor Alvim, fidalga da zona do Minho que enviuvara muito cedo e não tinha filhos. O casamento fora arranjado pelo rei e por D. Frei Álvaro Gonçalves Pereira, a contragosto do filho que não queria casar. Do matrimónio nasceram dois filhos que morreram durante o parto, e uma filha, Beatriz, a qual mais tarde viria a desposar o filho do rei D. João I, D. Afonso, primeiro duque de Bragança.
 
Cerca de 1378-1379, estando D. Nuno Álvares Pereira “a seu prazer em sua casa com sua mulher e filha que lhe já Deus dera”, é avisado da morte do pai, deslocando-se prontamente para ir assistir às solenes exéquias. Cumprido o seu dever volta a casa e aí se mantém até ao momento em que é chamado por El-Rei D. Fernando para que vá a Portalegre ter com o seu irmão D. Pedro Álvares Pereira, Prior do Crato, ajudando-o na guerra com Castela, em prol da manutenção das fronteiras do Entre-Tejo-e-Guadiana. Para aí se desloca levando consigo “vinte e cinco homens de armas: e trinta homens de pé escudados e todos bons homens e para feito”. D. Nuno Álvares Pereira está também presente no casamento de D. Beatriz com D. João I de Castela, que se realiza, em Elvas, em Abril de 1383.
 
Quando o rei D. Fernando I morreu, em 22 de Outubro de 1383, sem herdeiros a não ser a princesa D. Beatriz, casada com o rei D. João I de Castela, D. Nuno Álvares Pereira, que “estava Entre Douro e Minho em sua casa com sua mulher”, foi um dos primeiros nobres a apoiar as pretensões portuguesas de D. João, Mestre de Avis, à Coroa. Apesar de ser filho ilegítimo de D. Pedro I de Portugal, D. João afigurava-se como uma hipótese preferível à perda da independência nacional para Castela. Depois da primeira vitória militar de D. Nuno Álvares Pereira sobre os castelhanos na batalha dos Atoleiros, em Abril de 1384, D. João de Avis nomeou-o Condestável de Portugal e Conde de Ourém.
 
Representação de D. Nuno Álvares Pereira, enquanto rezava antes da Batalha de Aljubarrota
Seu irmão, D. Pedro Álvares Pereira, que entretanto se havia aliado aos castelhanos, liderou uma carga à retaguarda portuguesa, na Batalha de Aljubarrota, e aí terá morrido após uma queda de cavalo, enquanto atravessava o riacho de Aljubarrota, alegadamente, em fuga aos homens de seu irmão D. Nuno Álvares Pereira. Dando por certo este episódio da famigerada Batalha, travada no centro de Portugal, em 1385, e tendo este sobrevivido àquele, poder-se-ia abrir aqui uma possibilidade deste poder ter sucedido àquele na dignidade de Prior do Crato. Porém, já aquele não o era e já esse lugar se encontrava ocupado por D. Frei Álvaro Gonçalves Camelo, ao qual terá sucedido D. Frei Lourenço Esteves de Gois, de resto, por alegada intercessão do próprio D. Nuno Álvares Pereira, Condestável de Portugal, como veremos pelo excerto que se passa a transcrever e que tomámos como credível:
 
«O primeiro que em Portugal se chamou Prior do Crato, foi D. Fr. Álvaro Gonçalves Pereira, pai do grande Condestável D. Nuno Alvares Pereira, ilustre tronco dos nossos Reis, e de quasi todos os da Europa, e com este título acompanhou o dito Rei D. Affonso IIII na celebre batalha do Salado.(…)
O primeiro Prior do Crato D. Fr. Álvaro Gonçalves Pereira, achando-se velho, pedio e obteve do Papa Urbano VI o Priorado a D. Fr. Álvaro Gonçalves Camelo, Mariscal do Reino: mas não querendo ElRei D. Fernando estar pelo provimento do Papa, ou por lhe não convir, ou por seguir as partes de Clemente VII, o proveo em D. Pedro Alvares Pereira, seu filho leigo e secular, visto que em nenhuma escritura se intitula Freire: servio D. Pedro de Prior em vida de seu pai, intitulando-se seu Lugartenente, e por sua morte ficou correntemente Prior do Crato, como se explica Brandão Monarch. Lusit. no lugar acima. E aqui temos que o Papa nomeou Grão-Prior, prevenindo o Mestre, e o Convento, que o Rei não esteve pela nomeação, que fez outra, e que a fez em pessoa secular. No anno de 1260 EIRei D. Affonso III nomeou para Prior do Mosteiro de Agoas-Santas, pertencente naquele tempo aos Cavalleiros do Santo Sepulcro, ou aos Hospitaleiros, o Cavalleiro Fr. Pedro Fontes de Ourém, Malt. Port. Liv. II, Cap.7 pag.291: EIRei D. João desgostando-se com o dito Prior D. Pedro Álvares Pereira, por entender que elle seguia as partes de Castella, nomeou por huma sua Provisão para o Priorado o sobredito D. Fr. Alvaro Gonçalves Camelo, que em virtude della tomou posse do mesmo Priorado; e desgostando-se também com este Prior Camelo, por se passar a Castella no anno de 1399, quiz nomear Grão-Prior Fernão Alvares de Almeida, ayo dos Infantes seus filhos, o qual não era Cavalleiro do Hospital: e posto que o não nomeou, não foi por esta razão, mas por lhe pedir o Condestavel D. Nuno Alvares insinuação para os Freires elegerem, como elegerão, o Commendador da Vera Cruz D. Fr. Lourenço Estevens de Goios, Monarch. Lusit, lug. Cit.»
 
Parece-nos suficientemente elucidativa esta passagem da Dissertação de Pascoal José de Mello Freire, para concluir que D. Nuno Álvares Pereira nunca foi Prior do Crato, pese embora tenha andado ligado e muito próximo da dignidade e até tenha influenciado a sua governação, em dada altura.
 
Mais são tantos os méritos de D. Nuno Álvares Pereira que nenhum autor, tanto mais dos que escreveram e sentiram o espírito da Ordem dos Hospitalários, teria conseguido resistir à tentação de ligar o Santo Condestável a esta Ordem, houvesse para isso a mais pequena sustentação. Mas não, nenhum dos autores consultados aponta D. Nuno Álvares Pereira como Prior do Crato, nem sequer ligado aos demais ofícios e/ou hierarquia da Ordem dos Hospitalários.

O que não quer dizer que não se trate de um dos mais importantes vultos da nossa história e da igreja, que a Ordem sempre reconheceu e estimou enquanto tal, fazendo sempre questão de vincar os aspectos históricos tidos como verdadeiros e procurando praticar e divulgar o seu exemplo de vida, «...pautada pelos valores evangélicos, orientada pelo maior bem de todos, disponível para lutar pelos superiores interesses da Pátria, solícita por servir os mais desprotegidos e pobres.».

Membros da Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem Soberana e Militar de Malta junto da estátua de São Nuno de Santa Maria, inaugurada há um ano, no centro histórico da cidade de Barcelos.
Alerte-se, no entanto, para o facto de D. Nuno Álvares Pereira andar algumas vezes confundido com o seu próprio pai. Veja-se o exemplo do relicário medieval, em prata dourada, infelizmente desaparecido, do Santo Lenho, do Mosteiro de Vera Cruz de Marmelar, em Portel, que alguma historiografia tem atribuído a D. Nuno Álvares Pereira, alegando-se a grande devoção que este teria pela relíquia do Santo Lenho, mas, que é desmentida, a nosso ver correctamente, por Frei Lucas de Santa Catarina, que discorda desta atribuição, divergindo dos seus contemporâneos, ao afirmar que não foi o Santo Condestável mas sim seu pai, D. Fr. Álvaro Gonçalves Pereira, quem recolheu a relíquia do Santo Lenho “em huma ambula, que existe na igreja de Vera Cruz”.
 
Do seu casamento com Leonor de Alvim, como se referiu supra, D. Nuno Álvares Pereira teve três filhos, dois rapazes que morreram jovens e uma rapariga que sobreviveu. D. Beatriz Pereira de Alvim, de seu nome, veio a casar com o 1.º Duque de Bragança, D. Afonso, dando origem à Casa de Bragança.
 
O Convento do Carmo, em Lisboa, que mandou construir em cumprimento de um voto, foi a última morada de D. Nuno Álvares Pereira, que aí entrou tomando o nome de Irmão Nuno de Santa Maria, em 1423, e aí permaneceu até ao soar do seu derradeiro suspiro em 1 de Novembro de 1431.
 
Aí repousaram os seus restos mortais em túmulo que o Terramoto de 1755 destruiu. Subsistiram, no entanto, os dizeres do seu epitáfio: “Aqui jaz aquele famoso Nuno, o Condestável, fundador da Sereníssima Casa de Bragança, excelente general, beato monge, que durante a sua vida na terra tão ardentemente desejou o Reino dos Céus depois da morte, e mereceu a eterna companhia dos Santos. As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande Príncipe, mas fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde descansa o seu corpo.”

D. Nuno Álvares Pereira foi canonizado como São Nuno de Santa Maria pelo papa Bento XVI, no dia 26 de Abril de 2009.

Selo alusivo à canonização de Beato Nuno de Santa Maria
Numa oportuna nota pastoral sobre a canonização, que nunca é demais reproduzir, a Conferência Episcopal Portuguesa, declarou:
"(…) o testemunho de vida de D. Nuno constituirá uma força de mudança em favor da justiça e da fraternidade, da promoção de estilos de vida mais sóbrios e solidários e de iniciativas de partilha de bens. Será também apelo a uma cidadania exemplarmente vivida e um forte convite à dignificação da vida política como expressão de melhor humanismo ao serviço do bem comum.
Os Bispos de Portugal propõem, portanto, aos homens e mulheres de hoje o exemplo da vida de Nuno Álvares Pereira, pautada pelos valores evangélicos, orientada pelo maior bem de todos, disponível para lutar pelos superiores interesses da Pátria, solícita por servir os mais desprotegidos e pobres. Assim seremos parte activa na construção de uma sociedade mais justa e fraterna que todos desejamos.”


CASTRO, P. João Baptista de (Lisboa, 1747), Mapa de Portugal, 3.ª Parte, pág. 57 e ss.
AMADO, F. França (Coimbra, 1911), Crónica do Condestabre de Portugal Dom Nuno Álvares Pereira.
FREIRE, Pascoal José de Mello (Lisboa, 1810), “Dissertação Histórico-Jurídica sobre os Direitos e Jurisdição do Grão-Prior do Crato, e do seu Provisor”, Typographia Régia, pág. 48 e ss.
PAGARÁ, Ana, SILVA, Nuno Vassalo e, SERRÃO, Vítor, Igreja Vera Cruz de Marmelar, Câmara Municipal de Portel, pág.60.
Patriarcado de Lisboa, via Wikipédia.
Jornal Público

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A propósito da Homenagem aos Priores do Crato

À semelhança do ano transacto e mantendo a intenção de fixar a celebração no seu calendário anual, a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Vila do Crato, realiza no próximo domingo, dia 20 de outubro, a Missa de Homenagem aos Priores do Crato.
Desta feita, associa-se também às Comemorações dos 900 Anos da Bula Piae Postulatio Voluntatis, de Pascoal II, chamando até si a Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem Soberana Militar de Malta, para em comunhão participaram naquela celebração e perpetuaram a efeméride com o descerramento de uma Lápide Comemorativa na denominada Varanda do Grão-Prior.

Varanda do Grão-Prior do Crato
Aproveitamos, pois, este ensejo para discorrer um pouco sobre os denominados Priores do Crato, a emblemática Varanda do Grão-Prior e, nomeadamente, sobre o Grão-Prior seu mandante.
Recorde-se muito sucintamente que a sede do Priorado da Ordem do Hospital em Portugal começou por ser a Norte, no Mosteiro de Leça do Balio, que pertence hoje ao concelho de Matosinhos. Com o avanço da linha de conquista de território aos mouros e com a doação de terras a norte do rio Tejo por D. Sancho I e além do Tejo por D. Sancho II, os Cavaleiros Hospitalários também se foram mudando progressivamente para Sul, permanecendo durante algum tempo e sucessivamente nos castelos de Belver e do Crato, para, depois, se estabelecerem definitivamente no Mosteiro de Flor da Rosa. Com esta mudança deu-se igualmente a alteração da denominação do titular da mais alta dignidade da Ordem em Portugal. O Prior do Hospital passou a designar-se Prior do Crato, sendo o primeiro desta nova designação D. Frei Álvaro Gonçalves Pereira, pai, entre outros, do Prior seu sucessor D. Pedro Álvares Pereira e do Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira. Volvidos aproximadamente dois séculos, assistimos a nova alteração na denominação do titular da mais alta dignidade da Ordem em Portugal: passou a denominar-se Grão-Prior do Crato. Deve-se esta nova e derradeira denominação ao Infante D. Luís de Portugal (n.03.III.1506, em Abrantes; f.27.XI.1555, em Lisboa), quarto filho de D. Manuel I e de Maria de Aragão, 5.º Duque de Beja, 5.º Senhor de Moura. 9.º Condestável de Portugal, Fronteiro-Mor da Comarca entre Tejo e Guadiana, Senhor das vilas da Covilhã, Seia, Almada, Moura, Serpa e Marvão; dos concelhos de Lafões e Besteiros.

D. Luís de Portugal, com a Cruz de Malta ao peito.
Importa, pois, recordar que, nomeadamente a partir da rebelião do Prior do Crato Frei D. Nuno Gonçalves de Góis contra a regência do Infante D. Pedro (1392-1449), os nossos monarcas tomaram consciência para o significativo poder e importância dos Senhores do Crato, que passaram a acompanhar, receosos, ao mesmo tempo que ia crescendo o seu interesse em controlar a chefia do Priorado dos Cavaleiros Hospitalários em Portugal.

Esmiuçando um pouco mais este tema, ainda pouco desbravado, somos levados a constatar que a questão encontrou a sua oportunidade na vacatura do Priorado aberta pelo falecimento do Prior do Crato, Frei D. João de Meneses (n.c.1460, f.12.VII.1522), Conde de Tarouca, em 12 de Julho de 1522. Foi então designado para ocupar a dignidade o Comendador de Vera Cruz e Algoso, Frei D. Gonçalo Pimenta Teles de Avelar. Porém, El-Rei D. João III pediu-lhe que renunciasse em favor do Infante D. Luís, seu irmão, prometendo-lhe satisfação equivalente. Aquele não terá aceitado, com a justificação de que um lugar que lhe dera a Sua Religião, nunca por seus serviços o haveria de vender. Sem embargo disto, no entanto, talvez por outras circunstâncias que se desconhecem, veio aquele Prior a renunciar depois, pelo menos parcialmente, no referido Infante, o qual em vida de D. Gonçalo não se intitulou Prior do Crato, mas, apenas administrador. Após o passamento do Prior D. Gonçalo Teles de Avelar, D. Luís de Portugal logo se intitulou Grão-Prior do Crato, dignidade que ocupou de 1527 a 1555.

D. João III não só conquistou a dignidade para a Coroa, a custo de diversas diligências junto da Santa Sé, o que se constata, nomeadamente pelo agradecimento que, em 1532, o próprio Embaixador de Portugal em Roma, expressou ao Papa, em nome de D. João III, pela concessão do Priorado do Crato em benefício do infante D. Luís; como, adivinhando futuros protestos, conseguiu mesmo do Papa Júlio III a bula pontifícia de 1551, que fez com que D. António de Portugal - que veio a ser cognominado precisamente por Prior do Crato -, filho natural do Infante, fosse nomeado sucessor do pai. Facto que colocou a dignidade sob a nomeação arbitrária da Coroa, e levou o Capitulo Geral da Ordem, realizado em 1598, sob proposta dos Cavaleiros da Veneranda Língua Portuguesa, a deliberar a criação da dignidade de Balio titular de S. João de Acre, para suprir a perda de nomeação e eleição para o lugar cimeiro do Priorado de Portugal.
 

Normalmente, apenas se refere esta “ingerência” da Coroa a partir de 1789, altura em que o Priorado do Crato foi incorporado na Casa do Infantado e passaram a ser nomeados Grão-Priores os filhos secundogénitos dos Reis de Portugal, mas, como acabamos de referir, era já muito mais antiga a intenção de controlar aquela dignidade. O primeiro Infante a detê-la foi D. Luís de Portugal, do qual se diz que, atendendo às suas qualidades, só faltou ser rei.
 
Com efeito, desde muito cedo o Infante D. Luís deu provas de grande inteligência, destacando-se pela forma brilhante com que assimilou e desenvolveu as lições do professor Pedro Nunes, com o qual aprendeu filosofia, aritmética, geometria e astronomia. O próprio Pedro Nunes o reconheceu com um encarecido elogio ao dedicar-lhe a tradução dos três tratados de Ptolomeu: «E duvidando muito comigo, se dirigiria isto a V.A. a matéria da obra me convidou a fazer: que pois V.A. tem tanto primor na Cosmografia, e na parte instrumental, e tem tão alto e tão claro entendimento e imaginação, que pode facilmente inventar muitas coisas que os antigos ignoraram, parece que de direito lhe pertencia: de outra parte punha-me grande receio de ser a Obra tão pequena e não haver nela coisa que a V.A. seja nova.»
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Mas também pela poesia e, nomeadamente por Gil Vicente, demonstrou o Infante D. Luís grande predileção e afeto. Lê-se no Portal de História que «A sua intimidade com os sábios e os poetas do seu tempo, o seu trato afetuoso com muitos dos mais ilustrados fidalgos da Corte, a sua amabilidade muito pouco própria dum príncipe naquela época, a sua viva inteligência, o seu espírito aberto a todas as grandes coisas, tinham-lhe granjeado não só a estima das pessoas que frequentavam o Paço, mas também uma grande popularidade, porque realmente o povo gostava de ver aquele príncipe jovial, franco, desembaraçado, inteligente e instruído, tão completamente diverso do sombrio D. João III, seu irmão».

Precisamente ao Grão-Prior D. Luís de Portugal se atribui a edificação do Palácio e Varanda do Grão-Prior do Crato, cujo traço é atribuído a Miguel de Arruda. Pouco mais do que uma janela, é o que resta da antiga traça do Palácio. Já da Varanda, graças à sua robustez, tudo chegou aos nossos dias. De estrutura retangular, foi originalmente edificada num plano avançado em relação à fachada do Palácio, estando dividida em dois pisos. O piso térreo, que abre para a praça através de três arcadas, e o varandim, decorado a toda a volta com rosáceas e meias rosáceas. É hoje o mais importante Memorial dos Grão-Priores do Crato em Portugal.
É também aos ofícios de D. Luís de Portugal que se atribui a fundação, em 1519, do cenóbio dos Cavaleiros de Rodes em Portugal, mais tarde (depois de 1530) redenominado Convento da Penitência de S. João da Ordem de Malta, ou das Maltesas, em Estremoz, o único que a Ordem teve no nosso território.

Também D. Luís de Portugal, já em tempo do exercício da dignidade de Grão-Prior do Crato, ordenou a construção do Paço Real de Salvaterra de Magos, também denominado Paço do Infante D. Luís, de cuja terra obteve o Senhorio de seu irmão D. João III. Aí se estabeleceu, mais tarde, a famosa Real Falcoaria de Salvaterra de Magos, cujos primeiros falcões foram então enviados pelo Grão-Mestre da Ordem de Malta, o português Frei D. Manuel Pinto da Fonseca.
Por fim, e também para ligação dos factos com que se vai fazendo importante e gloriosa a história desta Nossa Ordem de Malta em Portugal, recordar que D. Luís de Portugal foi muito considerado pelo 2.º Rei de Espanha e Imperador do Sacro Império Romano-Germâncio, mais conhecido por Imperador Carlos V. Esse mesmo, ao qual ainda recentemente nos referimos a propósito da concessão da soberania sobre a Ilha de Malta que fez aos Cavaleiros Hospitalários de São João de Jerusalém e de Rodes, em 1530, ano da sua coroação como Imperador pelo Papa Clemente VII.
Por vontade de Carlos V, e não fosse a oposição das pretensões francesas, D. Luís de Portugal teria sido investido Senhor do opulento Estado de Milão, em recompensa dos seus merecimentos e pelos memoráveis serviços que lhe prestara, nomeadamente, pela célebre expedição a Argel e Tunes, onde com grande eficácia e por deliberações de D. Luís de Portugal se destronou o célebre corsário Barba Roxa, que se havia assenhorado daquelas regências, dominando daí impunemente o Mediterrâneo.

FONTES:
BELLO, Conde de Campo, A Soberana Militar Ordem de Malta e a sua acção em Portugal. Lisboa, 1931, pág.125-127.
Santa Catharina, Fr. Lucas de, Malta Portugueza: Memorias da nobilissima e sagrada Ordem dos Hospitalarios de S. João de Jerusalem, especialmente do que pertence à Monarchia Portugueza, Lisboa, Officina de Joseph Antonio da Sylva, 1734, pág. 383.
Acerca do infante D. Luís pode ver-se ainda: O Ano histórico, tomo III, pág. 397 a 399; Biblioteca Lusitana, de Barbosa Machado, vol. III, pág. 45. Atribuem-lhe o Auto de D. Duardos, que depois de repetidas impressões, saiu em Lisboa, 1659, contudo, este Auto foi publicado entre as obras de Gil Vicente, e figura no vol. III dessas obras, com o titulo de Tragicomédia. Várias Cartas do infante, dirigidas a diversas pessoas, andam no livro acima citado do conde de Vimioso, e na Vida de D. João de Castro, por Jacinto Freire de Andrada; nas Crónicas da Companhia de Jesus, da Arrábida, dos Cónegos regrantes; no Antiquário Conimbricense, etc.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Sobre o estabelecimento dos Cavaleiros de S. João de Jerusalém e de Rodes em Malta

Plano da cidade de La Valetta
1680

Grão-Porto, Ilha de Malta
1801
Há precisamente 483 anos, depois de perderem o domínio sobre a ilha de Rodes (que abandonaram, ainda que, com honras militares, em 01.I.1523) e se estabelecerem temporaria e sucessivamente em Viterbo, Nice e Siracusa, os Cavaleiros Hospitalários de S. João de Jerusalém e de Rodes fixaram-se na ilha de Malta, ao abrigo do acordo celebrado com o imperador Carlos V e a aprovação do Papa Clemente VII.
Ao passo que se deu continuidade à luta contra os infiéis, também se verificou um crescente desenvolvimento da ilha, cuja defesa também era preciso acautelar, principalmente após o ataque perpetrado em 1565 pelas forças do sultão otomano Solimão, com o objectivo de exterminar a Ordem. Apesar da enorme frota turca, com quatro vezes mais o número de homens, e da particular severidade da luta que durou de Maio a Setembro desse ano, sairam vitoriosos e motivados os Cavaleiros de S. João de Jerusalém. Razão pela qual insistiram em manter essa sua posição em Malta.
 
Cerco Otomano a Valetta
1565
Foi então que o Grão-Mestre Jean Parisot de La Valette ordenou que se desse início ao plano de construção de uma cidade fortificada. Este projecto recebeu o apoio do Papa Pio V e o patrocínio do rei de Espanha, Filipe II, que disponibilizaram os seus serviços de engenharia militar para a concepção da cidade e das suas estruturas defensivas. Os trabalhos começaram em 1566, com a construção dos bastiões, procedendo-se depois à construção dos edifícios mais importantes. Volvidos apenas dois anos, estavam já concluídos os trabalhos de fortificação. Em homenagem ao Grão-Mestre La Valette, a cidade recebeu o nome La Valetta.
A fortificação foi traçada pelo arquitecto italiano Francesco Laparelli, que deixou Malta em 1570, enquanto que os principais edifícios, como a Igreja de São João, o Palácio do Grão-Mestre e Sacra Infermaria e os albergues de hospedagem aos Cavaleiros da Ordem, foram traçados pelo arquitecto maltês Gerolamo Cassar, que lhes imprimiu o estilo maneirista.
Bastião da Cristandade, materializado na fortaleza que rodeava a cidade, La Valetta logo se revelou um local seguro e atrativo, que muito cresceu em termos populacionais e patrimoniais durante o século XVI.
 
Para o crescimento populacional e patrimonial de La Valetta, bem como para o bom nome da Ordem de Malta, contribuiram também três dos quatro ilustres portugueses que ocuparam a dignidade de Grão-Mestres da Ordem. D. Frei Luíz Mendes de Vasconcelos, de 1622 a 1623, D. Frei António Manoel de Vilhena, de 1722 a 1736, e D. Frei Manuel Pinto da Fonseca, de 1741 a 1773, cujos monumentos funerários se podem observar na Co-Catedral de S. João, em La Valetta.
 
Os Cavaleiros Hospitalários de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta, permaneceram na ilha até ao dia em que Napoleão, traiçoeiramente, atacou a Ordem "no seu coração", obrigando o Grão-Mestre Ferdinand Von Hompesch, que lhe terá dado porto-salvo para reabastecer os navios enquanto se dirigia para o Egipto, a capitular. Fonte e Imagens: Wikipédia.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

À conversa com S.E. o Embaixador da Ordem Soberana de Malta em Portugal, Dr. Miguel de Polignac Mascarenhas de Barros

Correspondendo a um nosso desafio para, de forma informal, conversarmos um pouco sobre a história, legado e actualidade, bem como sobre a acção diplomática da Ordem de Malta, fomos recentemente recebidos por S.E. o Senhor Embaixador da Ordem em Portugal, Dr. Miguel de Polignac Mascarenhas de Barros, no Forte da Cruz, edifício acastelado sobranceiro à famosa praia do Tamariz, no Estoril.

Forte da Cruz, Estoril
Apesar da magnificência que caracteriza o Forte da Cruz, residência de Verão do actual Embaixador da Ordem Soberana de Malta em Portugal, como se pode ler na placa existente na entrada principal e adivinhar pelo pavilhão da Ordem frequentemente hasteado na torre altaneira, foi em ambiente de grande informalidade e simplicidade que Miguel de Polignac Mascarenhas de Barros fez questão de nos receber.

A nossa conversa começou logo ali ao fundo da escadaria principal, com a curiosidade apontada para a sigla "MB" de Mascarenhas de Barros, em lugar de brasão, que ao ritmo que fomos subido e depois percorrendo cada uma das divisões do segundo andar, serviu de mote a uma pequena deambulação pela história do Forte e da família paterna do nosso ilustre anfitrião, cujo coração futebolístico palpita moderadamente e se reparte entre o Estoril e o Belenenses, clubes das zonas em que viveu a sua juventude.

O Forte da Cruz foi edificado sobre as ruínas do forte de defesa da costa atlântica do século XVI, que se denominava então por Forte da Cruz de Santo António d'Assubida.  Foi mandado construir por João Martins de Barros, seu bisavô paterno, por volta de 1893 e a traço do arquitecto italiano Cesar Ianz, que lhe imprimiu um estilo neo-medieval de inspiração Toscana, como nos contou detalhadamente Miguel de Polignac de Barros.
Dr. Miguel de Polignac Mascarenhas de Barros
É com os raios apontados ao Forte que o Sol se põe no mar, encandeando parcialmente as vistas sobre Cascais. Vislumbra-se, no entanto, logo ali a dois passos, o famoso Colégio dos Salesianos que Miguel de Polignac Mascarenhas de Barros frequentou depois de chegar de Paris e aprender português com a tia paterna que então habitava o Forte. Polignac, como em breve ficaria conhecido entre os seus colegas de escola, é natural de França, onde alguns dos seus ascendentes maternos ocuparam lugares destacados na Associação dos Cavaleiros Franceses da Ordem de Malta.

Foi por isso muito natural o seu ingresso na Ordem, logo que atingiu a maioridade para o efeito. No entanto, apesar de natural, o ingresso na Ordem não constituiu um adquirido sem importância, mas, correspondendo a uma tradição de família, constituiu também um desafio e uma convicção, de forte carga humanista, como, de resto, o seu percurso o veio a confirmar. Referiu-nos, com evidente orgulho e espírito de missão, que servirá a Ordem, dando o melhor que puder e souber, enquanto os seus responsáveis máximos assim o entenderem.

Acto Oficial de Entrega das Cartas Credenciais a S.E. o Senhor Presidente da República
Antes de ser nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário, pela entrega das Cartas Credenciais a S.E. o Senhor Presidente da República Portuguesa, Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva, em 10 de setembro de 2008, foi Primeiro Secretário (1980), Conselheiro de Embaixada (1998) e, depois, Encarregado de Negócios da Ordem Soberana de Malta em Portugal. Percurso que faz de Miguel de Polignac Mascarenhas de Barros, formado em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa, um diplomata de carreira, cujas precedências lhe conferem também o estatuto de um dos membros mais autorizados do actual corpo diplomático acreditado em Portugal. Actualmente acumula ainda o cargo de Representante Oficial da Ordem Soberana de Malta junto da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP).

Por isso, foi com redobrada emoção e muito orgulho que correspondeu ao desafio de nos falar da história e, nomeadamente, dos 900 Anos sobre o reconhecimento pela Santa Sé que a Ordem está a comemorar este ano. Salientou-nos este aspecto, como um dos mais relevantes e um dos que mais responsabilidade acarreta para as funções que desempenha. Tanto mais quando são poucos os Embaixadores que carregam a responsabilidade de representar 900 Anos de História, de acção em prol dos mais desfavorecidos e desvalidos.

A Soberania é, no entanto, a característica que mais destaca na Ordem de Malta, estatuto que a equipara a um Estado Soberano e faz desta Ordem uma entidade de Direito Internacional Público, que se tem afirmado ao longo da história, um pouco por todo o Mundo, principalmente por onde grassam as fragilidades e carências humanas, decorrentes de calamidades, conflitos beligerantes e catástrofes naturais. “Campos de Batalha” onde sempre se afirmou como aliada dos mais desprotegidos e intermediária preponderante em muitos conflitos, mormente por força da posição de neutralidade que adopta em cenários desta natureza, atuando como organização humanitária internacional.

Sua Excelência, falou-nos ainda da importância da Ordem para Portugal, pelas conhecidas razões históricas, em que foi imprescindível no auxílio à reconquista, povoamento e defesa do território, mas também pela administração de muitas terras e bens que se manteve entre nós até 1834. Mas, também hoje, nomeadamente no actual contexto de dificuldades económicas e sociais. A Ordem, dada a sua implantação mundial, consegue sempre estabelecer contactos e firmar pontes internacionais com vista à superação de necessidades, nomeadamente através da acção dos seus milhares de membros e voluntários, que tantas vezes se assumem como a força necessária à superação de problemas pontuais e resolução de situações concretas, de que nos deu inúmeros exemplos.

Quanto à representação e acção da Ordem no nosso país, Sua Excelência salientou o facto de existir em Portugal Embaixador acreditado, mas também uma Associação, herdeira das tradições hospitalárias, assistenciais e culturais dos Cavaleiros Hospitalários de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta: a Assembleia dos Cavaleiros Portugueses. No entanto, frisou, trata-se de duas entidades autónomas. De resto, há países onde existe embaixador acreditado e não existe associação nacional, e vice-versa. Mais salientou que o seu estatuto de Embaixador, cujas funções principais são as tarefas de negociar, informar e representar, não lhe permite interferir na acção e assuntos da Assembleia dos Cavaleiros Portugueses, mas apenas colaborar com esta. O que procura fazer sempre que para esse efeito é solicitado e convidado. E faz com orgulho e empenho também pessoal, muitas das vezes envergando as suas vestes e insígnia de Cavaleiro Grã-Cruz de Honra e Devoção, como fez questão de nos referir. Para Miguel de Polignac Mascarenhas de Barros, o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pela Assembleia dos Cavaleiros Portugueses é absolutamente irrepreensível e merecedor de todo o empenho e reconhecimento por parte dos seus membros e da sociedade em geral. Neste ensejo deu-nos nota, por exemplo, da qualidade e diversidade das inúmeras actividades que a Assembleia tem levado a efeito neste contexto das Comemorações dos 900 Anos da Bula Piae Postulatio Voluntatis de Sua Santidade o Papa Pascoal II.

A participar numa Cerimónia Religiosa, ladeado por S.E. o Senhor Conde de Albuquerque
e pelo Dr. João Pedro de Campos Henriques, Presidente e Secretário do Conselho da
Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem Soberana Militar de Malta

É hoje evidente a maior visibilidade da Ordem no nosso país e isso deve-se, em grande parte, ao trabalho realizado e inúmeras parcerias desenvolvidas pela Assembleia dos Cavaleiros Portugueses, cujo Conselho é presidido de forma empenhada e dedicadíssima pelo Senhor Conde de Albuquerque, Dom Augusto de Albuquerque de Athayde.

Daqui talvez uma das razões pelas quais não se tem ouvido falar em falsas Ordens, questão que requereu o maior empenho numa altura em que a Ordem não tinha tanta visibilidade e fez com que emergissem tentativas de aproveitamento do seu bom nome e tradição, com intuitos menos claros. Como também quase já não existem hoje as confusões propositadas sobre as características e estatuto próprio da Ordem de Malta, bem como o seu posicionamento relativamente à Igreja. E o mesmo se ressalve a propósito da relação com as demais Ordens de Cavalaria com representação em Portugal, cuja convivência tem sido salutar e pacífica. Isso deve-se a uma maior divulgação e uma crescente e progressiva participação da Ordem em inúmeras actividades de caracter religioso, histórico e cultural, nos últimos anos.

E eis a pergunta inevitável: Estamos perante uma Ordem elitista? Miguel de Polignac Mascarenhas de Barros não se mostrou minimamente incomodado com a pergunta. De resto, surpreendeu-nos mesmo ao afirmar que talvez sim. Talvez estejamos perante uma Ordem elitista, ou melhor, uma Ordem de génese elitista, como fez questão de frisar. E talvez seja essa a razão da Ordem perdurar tantos séculos, renovando-se e adaptando-se constantemente. Mais referiu ficar sempre surpreendido por uma certa tendência em colocar este rótulo aparentemente pejorativo, em vez de se privilegiar o facto de em torno de uma instituição carregada de história e tradição se congregarem pessoas comuns e individualidades de prestígio académico, profissional e social, com o objectivo assumido de contribuir para auxiliar os mais desfavorecidos e carenciados, com os mesmos propósitos de sempre - obsequium pauperum (serviço aos pobres) et tuitio Fidei (protecção da Fé) -, mas, agora, sem os privilégios e benefícios de outrora.

Quanto ao mais, é natural que uma Ordem de Cavalaria como é a Ordem de Malta, que começou justamente por procurar congregar pessoas de posses, armas e cavalos, para proteger os peregrinos, acolher os mais desprotegidos e lutar pela Fé Cristã - mantendo a tradição que a fez subsistir até aos nossos dias -, conserve também ainda hoje algumas características restritivas no que diz respeito ao recrutamento dos seus membros. Faz parte da tradição e características próprias de uma Ordem desta natureza.

Entretanto, a cor gradiente do crepúsculo vespertino toma o Forte da Cruz e dita o fim desta agradável conversa, que, apesar do esforço pela informalidade e descomprometimento, acabou por ser orientada pela carga de seriedade que os assuntos próprios da Diplomacia e da Ordem carregam.

Saiu o Senhor Embaixador da Embaixada, mas a Embaixada dificilmente saiu do Senhor Embaixador. Mais do que a conversa que queríamos que fosse, acabou por ser a conversa que tinha de ser. Acontece-nos assim quando nos deparamos com pessoas que não se servem das instituições, mas antes que as vivem e procuram servir todos os dias. E isto é tão mais significativo, quando muitos dos destinatários da acção primordial da Ordem de Malta fazem por sobreviver dia após dia e cada um dos dias mais que vivem é sempre uma vitória. Pelo que servir a Ordem não se compadece com acções e actividades pontuais, mas antes com uma dedicação constante e activa.


Chancelaria da Embaixada da Ordem Soberana de Malta em Portugal, Lisboa
Residência Oficial de S.E. Embaixador Dr. Miguel de Polignac de Barros
A Soberania da Ordem Soberana Militar e Hospitalária de Malta é hoje reconhecida por mais de 125 Estados, com os quais estabelece relações diplomáticas ao nível de Embaixador. Entre as principais competências do Corpo Diplomático inscreve-se a avaliação dos problemas humanitários internacionais, mantendo deles informado o Grão-Mestre e o Governo da Ordem.

No caso de Portugal, a Ordem é actualmente representada por Embaixador residente e possui Chancelaria com sua sede oficial, em Lisboa. As relações diplomáticas com a Ordem tiveram o seu início em 1951, com o reconhecimento do direito e a criação de uma Legação da Ordem em Lisboa, com o Ministro Plenipotenciário Conde Alviso Emo Capodilista. A reciprocidade concretizou-se em 1962, com S.E. o Embaixador Dr. António Augusto Braga Leite de Faria, que acumulou com a de Embaixador junto da Santa Sé. Posteriormente, em 1971, as relações foram elevadas ao nível de Embaixada.

Com a acreditação de S.E. o Senhor Embaixador Miguel de Polignac Mascarenhas de Barros, a Ordem Soberana de Malta, recuperou a tradição de nomear um Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário para Portugal, residente no país, fortalecendo desta forma a sua representação, as boas relações com as autoridades oficiais e com a sociedade civil, o que muito beneficia e facilita a missão caritativa da Ordem no nosso país.

A prerrogativa de indicar, para nomeação, Embaixadores Extraordinários e Plenipotenciários para Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, no entanto, pertence à Assembleia dos Cavaleiros Portugueses.

por António Brandão de Pinho
Setembro de 2013, Forte da Cruz, Estoril.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

07 de Outubro de 1571 - Batalha de Lepanto


Há precisamente 442 anos travou-se o conflito naval entre a esquadra da Liga Santa e a esquadra do Império Otomano, de que saiu vitoriosa a Liga Santa, formada pela Ordem de Malta, os Estados Pontifícios, a República de Veneza e o Reino de Espanha, aos comandos de João da Áustria.
 
 
Este conflito, travado ao largo de Lepanto, na Grécia, representou o fim da expansão islâmica no Mediterrâneo e marcou o início do culto a Nossa Senhora do Rosário. Ainda hoje, em quase todas as igrejas de Portugal, cujo padroado pertenceu à Ordem de Malta, existe a imagem de Nossa Senhora do Rosário.
O alarme para o conflito soou em 1570, quando os turcos otomanos invadiram a Ilha de Chipre, detida pela República de Veneza, cujos soldados se encontravam consideravelmente enfraquecidos por anos de luta contra os turcos. Assim, e para evitar que a entrada na posse de Chipre permitisse aos turcos o domínio do Mediterrâneo, os venezianos pediram ajuda a Pio V, que de imediato ordenou uma esquadra de duzentas e oito galés e seis galeanças, formando a então denominada Liga Santa. Esta frota enfrentou e derrotou duzentas e trinta galés turcas, em pouco mais de três horas.
 
 
Reza a lenda que no maior fragor da batalha, os soldados avistaram acima dos mais altos mastros da esquadra católica a imagem de uma Senhora que os aterrava com o seu aspecto majestoso e ameaçador.

Recorde-se que enquanto decorria a batalha, realizava-se uma procissão do rosário na Praça de São Pedro, em Roma, para sucesso da missão da Liga Santa contra os Turcos.
Em 1573, Gregório XIII instituiu a comemoração da Festa do Santo Rosário e Clemente XII estendeu a festa à Igreja Universal. Com o Concílio Vaticano Segundo a festa foi renomeada para Nossa Senhora do Rosário, assumindo a classificação litúrgica de memória universal. É comemorada no dia 7 de outubro, aniversário da batalha.

sábado, 5 de outubro de 2013

Revestiu-se de muito brilhantismo e significado, o concerto oferecido pela Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem Soberana e Militar de Malta, à Cidade do Porto no passado dia 1 de Outubro, a que tive o muito grato prazer de assistir e me encheu de entusiasmo e que espero se repitam no futuro. Bem hajam.

Cumprimentos,
Fernando Granja Rodrigues Cação