Este domingo, estivemos de visita à antiga Igreja de São João de Alporão, em plena zona histórica da rica cidade de Santarém, cuja fundação se deve à Ordem de Malta, então dita Ordem de São João do Hospital. Depois da tomada de Santarém em 1147, D. Afonso Henriques recompensou os Cruzados que o auxiliaram na reconquista da cidade doando-lhes terras. Os Cavaleiros da Ordem do Hospital, receberam, entre outras, a primitiva Igreja de São João do Alporão como sede de uma comenda. Reconstruiram então o templo que se concluiu ainda em finais do século XII, uma vez que, pouco depois, em 1207, recebeu aí os restos mortais de
D. Afonso de Portugal, filho bastardo de D. Afonso Henriques, primeiro Grão-Mestre português da Ordem.
O então dito Mosteiro da Ordem dos Hospitalários de São João de Alporão, provavelmente o melhor exemplar da arte românica no sul do país, manteve-se em posse da Ordem até à extinção das Ordens Religiosas em Portugal, em 1834, sendo que, depois, foi profanado e tomado para fins diversos. Actualmente, continua a servir fins diversos, o que é pena, albergando o núcleo de arqueologia do Museu Municipal de Santarém. Encontra-se classificado como Monumento Nacional desde 1910.
Observámos ainda aquela que terá sido a Casa dos Comendadores, actualmente delimitada da Igreja e transformada em casa particular, pese embora conserve alguns traços desse tempo e, nomeadamente, um brasão de escudo simples com a cruz oitavada de Malta, tal qual se apresenta nos nossos dias, conservado sob a porta daquela que será a principal divisão da casa.
Daqui seguimos para a antiga Comenda vizinha de Pontével, já no concelho do Cartaxo, que andou anexa e muitas vezes rivalizou supremacia hierárquica com esta sua congénere scalabitana, que deixamos para trás ao crepúsculo.
Suava já o Toque das Ave-Marias quando entrámos a visitar a simpática povoação de Pontével, antiga Comenda da Nossa Ordem de São João do Hospital.
Nos tempos da Reconquista era vital assegurar o povoamento de zonas limítrofes de posições importantes, como era o caso de Pontével relativamente a Santarém. Daí que o Rei fizesse doação das terras circundantes, nomeadamente à Ordem Militar de São João do Hospital, que então assim se estabelecia ao redor de Santarém. Como agradecimento pela ajuda na conquista de Lisboa D. Afonso II anexou Pontével, Ereira e Lapa à igreja de S. João de Alporão, em Santarém, constituindo assim a comenda de Ponteval, posteriormente Pontével, que pela sua importância e por ser muito rendosa depressa começou a reivindicar supremacia e se autonomizou. Teve Pontével três forais, o primeiro dado por D. Sancho I em 1194, o segundo pelo mesmo rei em 1195 e o terceiro em 1218 por D. Afonso II.
A Matriz, dedicada a Nossa Senhora da Purificação, remonta a esse tempo, apesar de quase integralmente reconstruída no século XVII. No seu interior podem-se apreciar alguns elementos importantes a remontar aos séculos XVI, XVII e XVIII, como a pia baptismal, diversas pinturas, painéis e, de realçar, os túmulos dos Comendadores do século XVII, dispostos na nave, entre os quais se destaca o de António Botto Pimentel, ao qual se deve a reconstrução da Igreja.
Deitamos ainda os olhos sobre aquele que foi o antigo Palácio dos Comendadores, edifício fronteiro à Igreja Matriz, de que apenas resta a sua grandeza e alguns lintéis de portas e janelas.
Anotamos ainda a orientação dos templos de Pontével e São João de Alporão, semelhante, entre outras, à do templo de São Brás, em Lisboa, também da Ordem (de resto, é actual sede da Assembleia dos Cavaleiros Portugueses). Todas orientadas para Poente, sendo que as duas últimas se situavam intramuros, junto às respectivas e então denominadas Portas do Sol de Santarém e Lisboa.