«O interesse do tema das relações artísticas entre Portugal e as «pátrias» da Ordem de S. João (Rodes e Malta, essencialmente) só de forma lenta vem sendo compreendido pelos historiadores da Arte e da Arquitectura portuguesas.
A questão foi abordada por Ayres de Carvalho no início dos anos 60 e por Robert Smith um pouco depois, mas não houve em qualquer dos dois casos uma preocupação globalizante. Ayres de Carvalho interessou-se apenas pela vida e obra de um artista maltês (Carlo Gimach) e Smith pela estadia em Malta de Nicolau Nasoni.
Mais recentemente, Rafael Moreira adiantou alguns dados inéditos sobre a presença em Portugal, no século XVI, de engenheiros militares ligados à Ordem de S. João e à ilha de Malta (Gabriel Tadino de Martinengro e Benedito da Ravenna, entre outros).
Entretanto, em Malta, Michael Ellul aprofundou a investigação sobre Carlo Gimach e divulgou algumas das suas conclusões, as quais, recortadas com os resultados da pesquisa de que nós próprios vimos procedendo sobre a obra de Gimach em Portugal, permitem já uma apreciação completamente nova do papel desempenhado por este arquitecto e artista maltês no nosso país.
Limitando o nosso campo de discussão ao século XVIII, faremos aqui um breve resumo de tudo o que se sabe das relações arquitectónicas directas entre Malta e Portugal, acrescentando, quanto a Gimach, vários dados inéditos e algumas hipóteses.
A importância para Portugal da cultura arquitectónica de Malta no período barroco começou a adivinhar-se quando, no final do século XIX, um erudito local abriu um velho armário do Mosteiro cisterciense de Arouca e descobriu curiosa inscrição feita numa das suas portas em 1718: aí se dizia que a arquitectura da igreja conventual fora reformada anos antes pelo «architecto italiano Carlo Ginac».
Cedo se determinou que o artista se chamava afinal Gimac (grafia utilizada em Portugal para o nome Gimach) e era de Malta, não de Itália.
Carlos Gimach nasceu em Malta em 1651 e faleceu em Roma em 1730. Educado nesta cidade pelos Jesuítas na década de 1670, em pleno período do Alto Barroco romano, veio para Malta pôr-se ao serviço de dois Cavaleiros portugueses da Ordem de S. João, ricos aristocratas do Douro e da Beira como muitos outros que, fixados em Malta na corte dos Grão-Mestres, patrocinaram parte da boa arquitectura maltesa dos séculos XVII e XVIII: Gaspar Carneiro (act. em Malta 1678-1696) e António Correia de Sousa Montenegro (em Malta pelo menos desde 1647, f. 1696), ambos Chanceleres da Ordem e Bailios de Leça.».
in "Portugal e a Ordem de Malta...", de Martim de Albuquerque, 1992, pág. 319 e ss.
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