sábado, 8 de setembro de 2012

Visita ao Casal da Falagueira de Cima, Amadora



Hoje estivemos de visita ao Casal da Falagueira de Cima (Casa da Ordem de Malta) e Azenha, no concelho da Amadora. O que está escrito dá-nos a ideia do que foi uma determinada realidade ou acontecimento, mas, muitas vezes, nada melhor que ir ao local para sentir e perceber essa realidade ou acontecimento. Tudo ganha outra importância e significado. Tanto mais assim é neste caso, quando temos a ideia de que a Amadora não tem história nem elementos do passado que a possam valorizar. Sobre o que ainda era possível (embora nos pareça que era possível fazer algo mais relativamente à azenha e ao canal de condução de água até à mesma) foi ali feito um excelente trabalho arqueológico e de recuperação do Casal outrora pertença da Odem de Malta, de que subsistem alguns marcos (aqui, com a cruz em relevo, mas de pontas atenuadas) de que se guardam dois exemplares no interior do núcleo museológico e, para além doutros que existem pelas imediações, um outro que se preserva encostado à parede exterior do núcleo, que outrora foi a Casa principal do Casal, e apresenta traços da centúria de  quinhentos.
Uma das mais antigas referências ao Casal da Falagueira, encontra-se num testamento de 1268,  de um Cavaleiro da Ordem do Hospital, de seu nome Vasco Martins.
Segundo Frei Lucas de Santa Catarina, a propósito da Comenda de São Brás, em Lisboa, esta era ainda foreira de algumas propriedades para além do termo da cidade, nomeadamente na Falagueira: «... tem também a Ordem ainda hoje um casal, que está por cima do lugar da Falagueira, chamado de São Brás, com casas, pomar, vinhas, terras e fontes; foreiro em quatro moios e meio de trigo [aprox. 3510 litros/kg.], um moio de cevada [780 l./kg.], um carneiro e seis galinhas; havendo dele várias pertenças, e subenfiteuticações [sic], que rendem 240 reis, ou uma galinha, e outra 200 reis, ou outra galinha. (…) Mais se conserva foreira uma terra, com seu moinho de vento, no alto do Lugar da Falagueira, que se desmembrou do casal do Louro» (SANTA CATARINA, 1734: 269/277).

8 comentários:

ibn branco disse...

E este casal de São Brás, já se chamava assim e deu o nome à comenda ou passou a ter este nome por causa da Ordem?

Ordem de Malta disse...

Este casal tomou o nome de "Casal de São Brás", por pertencer à Comenda de São Brás do termo de Lisboa da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém, como então se denominava.

ibn branco disse...

Pois, bem me parecia que seria assim. Ando a algum tempo às voltas com a origem do nome deste casal e, sempre considerei que tinha a ver com a Ordem do Hospital. Só que desconheço documentação que comprove isso. Se me puderem ajudar, agradeço. E já agora, que ligação existe entre essa Ordem e este santo em concreto?

Ordem de Malta disse...

Devido a várias vicissitudes é escassa a informação sobre esta Comenda e, nomeadamente, sobre os seus prazos.

Quanto a São Brás, orago da Igreja Cabeça da Comenda do termo de Lisboa da Ordem de S. João do Hospital, não há uma ligação especial. De resto, desconhecemos se foi uma consagração originária da Ordem ou a recuperação de uma tradição local. Mas, atendendo ao facto da Ordem ter S. João Baptista como Santo Patrono, é mais provável que se deva a recuperação de uma tradição local.

No entanto, como saberá, antes da imagética veneravam-se as relíquias, nomeadamente, dos Santos Mártires e do Santo Lenho. O facto desta Ordem percorrer e relacionar-se com a Europa de então possibilitou-lhe a introdução de muitas relíquias no nosso país e, por esta via, chamar mais adeptos à Sua causa. As relíquias do Santo Lenho e dos Santos Mártires, eram as mais solicitadas. A dedicação da Sua Igreja no termo de Lisboa a São Brás, poderá não ter sido alheia àquelas circunstâncias e propósitos.

De resto, como saberá, nesta Igreja, para além de São Brás, venera-se também Santa Luzia e venerava-se Santa Águeda. Duas das Santas mais veneradas na antiguidade Cristã, ambas martirizadas durante as perseguições do Imperador Diocleciano, tal como sucedeu com São Brás. Santa Luzia é venerada como protetora da visão; e Santa Águeda, como protetora dos terramotos. A todas estas imagens se dedicou altar nesta Igreja pela tradição e experiência de milagrosas, preferindo-se, no entanto, Santa Luzia, que por tão solicitada, assumia já maior protagonismo que o próprio e primitivo Orago no limiar do século XIX. Daqui ser esta Igreja hoje mais conhecida por Igreja de Santa Luzia e São Brás.

ibn branco disse...

Quando vim para aqui morar (para o casal de São Brás) e descobri que este bairro dormitório de Lisboa tinha estado ligado à Ordem de Malta (que tinha história), interessei-me um pouco mais pela Ordem e pelo local. Como não acredito em coincidências, achei que o próprio nome estaria relacionado e, puxando um pouco mais a brada à minha sardinha, acredito que o lugar terá tido mais importância da que lhe é atribuída. Quanto a São Brás, a Ordem trouxe alguma relíquia deste santo? Acerca da Ordem, se me é permitida a pergunta: A partir de que altura é que existem referências desta em Portugal? E quais os nomes dos primeiros responsáveis da Ordem no nosso território?

Ordem de Malta disse...

Desconheçemos se a Ordem introduziu em Portugal e nomeadamente na Igreja em referência alguma relíquia de S. Brás. Doutras, porém, há imensos relatos e mesmo na Igreja de São Brás existiram relicários com relíquias de Santa Luzia e São Brás. Infelizmente, todos “perdidos” em sequência da extinção das Ordens Religiosas em 1834 e da Separação do Estado da Igreja de 1911. Entre as mais famosas relíquias introduzidas por esta Ordem em Portugal, está a do Santo Lenho, existente no antigo Mosteiro de Vera Cruz de Marmelar, em Portel.

Quanto à entrada da Ordem no Nosso território, desconhece-se a data precisa. A Ordem tem sido objecto de estudo por vários historiadores, desde Fr. Lucas de Santa Catharina, Alexandre Herculano, Anastácio de Figueiredo, Viterbo, Gama Barros, Ruy de Azevedo e, mais recentemente (no final do séc. XX), como tema de dissertação de Mestrado e Doutoramento, pela historiadora Paula Pinto Costa. Restam, no entanto, ainda algumas sombras quanto à cronologia da sua instalação em Portugal, até porque uma parte importante do seu arquivo, sediado no Convento da Flor da Rosa, foi destruída pelas tropas espanholas em 1662.
Mantêm-se, por isso, ainda válidas as conclusões do historiador Ruy de Azevedo, que aponta uma doação do Mosteiro de Leça aos Hospitalários, que foi a sua primeira sede capitular, por D. Teresa, mulher do Conde D. Henrique. Nesta primeira fase, a Ordem de São João de Jerusalém não teria ainda entre nós uma forte organização militar, mas a sua presença tomava raízes, e, antes de 1132, já adquiria bens imóveis, sob o comando de Paio Galindes. A importância e a expansão da Ordem são confirmadas pela carta de couto outorgada por D. Afonso Henriques em 1140.

Quanto aos responsáveis máximos da Ordem na Língua que compreendia o nosso território, eram denominados Priores do Hospital e, segundo a historiografia mais recomendada, foi esta dignidade exercida por D. Frei Aires, D. Rodrigo Paes, D. Afonso Paes, D. Frei Gonçalo Viegas, D. Frei Mem Gonçalves, D. Frei Pedro Afonso, D. Frei Gonçalo Pereira, D. Frei Rodrigo Gil, D. Frei Fernando Lopes, D. Frei João Garcia, D. Frei Gonçalo Egas ou Viegas, D. Frei Afonso Pires Farinha, D. Frei Vasco Martins, D. Frei Garcia Martins, D. Frei Estevão Vasques Pimentel, a que se sucederam os denominados Priores do Crato, com a passagem da Sede da Ordem de Leça do Balio para o Crato. O primeiro Prior do Crato, foi D. Frei Álvaro Gonçalves Pereira (c. 1375-1425).

Na esperança de que os nossos esclarecimentos tenham sido úteis, subscrevemo-nos com os nossos melhores cumprimentos.

ibn branco disse...

Muito obrigado. Agradeço as preciosas informações prestadas e apresento os meus cumprimentos.

A.Serra disse...

Boa tarde,o Vasco Martins (Rebolo) a que se refere era cavaleiro da Ordem de Santiago, a ele foi atribuído o "Casal da Falagueira" que entendia um casal desde a Falagueira até ao ermo de Alfragide. Os terrenos adjacentes foram atribuídos à Ordem dos Hospitalários pelos seus préstimos não incluindo no entanto o "Casal da Falagueira". Cumprimentos.