quinta-feira, 27 de março de 2014

RELÍQUIA DO SANTO LENHO DA SÉ DE ÉVORA


A propósito da época cristã que estamos a viver, vale a pena fazer aqui notícia e trazer à memória um dos tesouros mais emblemáticos da Sé de Évora – a Relíquia do Santo Lenho (na imagem) -, cuja história da sua introdução em Portugal está ligada à Ordem do Hospital de São João de Jerusalém, nomeadamente, à acção do seu Prior Frei Afonso Peres Farinha, que a terá trazido da Palestina, no tempo das Cruzadas.
É por via da história e circunstância da introdução da Relíquia do Santo Lenho em Portugal, nomeadamente em Vera Cruz de Marmelar, Portel (que se pode consultar aqui), onde inicialmente se guardou e onde hoje se encontra parte da mesma, que se compreende a verdadeira história da Relíquia do Santo Lenho da Sé de Évora.
Dispomos já hoje de vários trabalhos sobre ambas as Relíquias, alguns dos quais, nomeadamente no caso da Sé de Évora, no entanto, acabam por se debruçar mais sobre os relicários do que sobre as relíquias, descurando, também assim, a origem e história das respectivas relíquias, em benefício da história dos relicários.
Servimo-nos, pois, de uma descrição feita aquando da Visitação Geral da Ordem de Malta às Suas Comendas nas Províncias da Estremadura e Alentejo, nas Comendas de Santarém, Torres Vedras, Torres Novas e Landal, Vera Cruz e Portel, Elvas e Montoito, em 1744, para dar esta nota.
«Tem esta Igreja uma insigne, milagrosa e venerável Relíquia do Santo Lenho em forma de cruz Patriarcal, embutida num relicário de prata de filigrana formado de custódia com vidro, e se conserva com toda a veneração fechada em um nicho de pedra mármore dourada com capa e cortina com lâmpada de prata quotidianamente acesa, expondo-se no dia da invenção da Vera Cruz de 3 de Maio e da sua exaltação a 14 de Setembro em cujos dias concorre um numerável povo à referida Igreja, como também nos mais dias do ano levado da veneração e fé que têm na Santa Relíquia que é prodigiosa para todos os males e enfermidades e principalmente para os vexados e possessos do Demónio e é tradição antiga de que se faz memória nos Tombos desta Comenda que Frei Afonso Peres Farinha, Prior que foi do Hospital neste Reino trouxera esta Santa Relíquia de Jerusalém no ano de 1271 e que vindo destinada para a Sé de Évora, ao passar por esta localidade, a mula que a trazia não passou adiante. Assim que lhe foi retirada a Santa Relíquia, de repente começou a brotar um canal de água que ainda hoje se preserva com o título de Fonte Santa, e à mesma Sagrada Relíquia se atribui a glória da famosa Batalha do Salado no ano de 1340, aonde a instancias d’El-Rei D. Afonso IV, a conduziu D. Álvaro Gonçalves Pereira, Grão Prior do Crato, e voltando da Batalha foi servida a Magestade do dito Senhor se partisse a mesma Sagrada Relíquia em duas partes iguais ficando uma parte nesta Igreja da Vera da Cruz, e indo a outra como foi para a Sé de Évora de sorte que no seu principio tinha perto de dois palmos de comprimento com dois braços iguais, um no cimo e outro abaixo, o que tudo se declarou nos tombos desta Comenda referindo-se a crónica do dito Senhor e outros autores».

in ANTT - Ordem de Malta, Visitações, Livro n.º 15, folha 364v e seguintes.

De entre todas as relíquias, a mais venerada é sem dúvida a do Santo Lenho, a da Cruz em que Jesus foi crucificado. Descoberta no século IV, em Jerusalém no monte Calvário, por Santa Helena, mãe do imperador Constantino I, foi repartida entre o Oriente e o Ocidente e distribuída ao longo dos séculos em pequeníssimos fragmentos por toda a Cristandade. Até muito recentemente, era preocupação das paróquias possuírem a sagrada relíquia, resguardada em relicários e sacrários especiais e, por vezes conforme as rubricas litúrgicas, substituindo a eucaristia na bênção dos fiéis e, sobretudo, nas procissões com a honra de ser transportada sob o palio.

in Inventário Artístico da Diocese de Évora.

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