Objetivo é garantir o apoio aos peregrinos que passam pelo Alentejo a caminho de Santiago de Compostela e Fátima
Portugal é, desde o início da nacionalidade, um segmento privilegiado desta vasta rede cultural, que se encontra presente ao longo de quase todo o seu território continental. No Alentejo, o Caminho tem vindo a ser alvo, durante a última década, de um intenso trabalho de redescoberta por parte do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, sob a direcção de José António Falcão. Trabalho que conta com a participação de especialistas de universidades e museus portugueses, franceses, irlandeses, espanhóis e alemães e está a produzir frutos significativos, permitindo trazer à luz do dia monumentos, obras de arte e documentos de arquivo há muito esquecidos.
Definido o labor científico, torna-se agora necessário criar condições, no terreno, para a orientação e acolhimento dos peregrinos, cujo número aumentou substancialmente nos últimos anos. O Departamento do Património Histórico e Artístico vem dialogando nesse sentido com instituições que possam prestar apoio, ao nível local ou regional, a quem segue a pé, de bicicleta ou a cavalo não só para a Galiza, mas também para outros santuários, como Fátima, Vila ou Nossa Senhora de Aires (Viana do Alentejo). Esta cooperação envolve já diversas autarquias, paróquias, associações, corporações de bombeiros e confrarias, com realce para as Santas Casas da Misericórdia, que contam, entre as suas valências históricas, a ajuda aos peregrinos, uma das obras de Misericórdia corporais.
Chegou agora a ocasião de a Diocese de Beja unir os seus esforços aos de outra instituição plurissecular, a Ordem Soberana e Militar de São João do Hospital, de Rodes e de Malta. Conhecida usualmente como Ordem de Malta, esta surgiu na Palestina, no século XI, e desempenhou, a partir de então, um papel do maior relevo assistencial e militar. Actualmente, é uma organização humanitária soberana internacional, reconhecida como entidade de direito internacional. Dirige hospitais e centros de reabilitação, tendo como objectivo auxiliar os idosos, os deficientes, os refugiados, as crianças, os sem-tecto ou as vítimas de doenças terminais e lepra, actuando nos cinco continentes do mundo, sem distinção de raça ou religião. Possui mais de 12.500 membros, 80.000 voluntários permanentes e 20.000 profissionais da saúde associados, incluindo médicos, enfermeiros, auxiliares e paramédicos.
A Ordem de Malta realiza também um notável trabalho ao serviço dos peregrinos, experiência que se pretende estender a novos territórios do Alentejo, através de um protocolo de colaboração com o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, que será celebrado no dia 25 de Julho, solenidade litúrgica de Santiago Maior, na igreja matriz de Santiago do Cacém, numa cerimónia solene que decorrerá às 19h30. O local, cheio de referências jacobeias, é simbólico, já que por aqui passa um dos principais itinerários do Caminho para Compostela – alvo de crescente atenção por parte de estudiosos e peregrinos, desde que este monumento nacional foi reaberto ao público.
O acordo prevê igualmente a valorização do património espiritual e material da Ordem de Malta, que assumiu uma presença muito importante no Alentejo. De facto, esta instituição teve o seu priorado na região e um dos mais destacados priores foi D. Álvaro Gonçalves Pereira, o responsável pela edificação do paço e mosteiro da Flor da Rosa (Crato), onde terá nascido o seu filho D. Nuno Álvares Pereira, hoje São Nuno de Santa Maria. É também de referir que a preciosa relíquia do Santo Lenho, trazida da Terra Santa por Fr. Afonso Pires Farinha, ainda é venerada no mosteiro de Vera Cruz de Marmelar, cabeça de uma das mais destacadas comendas maltesas, cujo território chegava a Elvas e a Beja. Moura e Serpa são outras terras com fortes ligações à Ordem.
Vão intervir na sessão, como outorgantes deste inovador protocolo, em nome da Ordem de Malta, o presidente da Assembleia dos Cavaleiros Portugueses da Ordem, Augusto de Albuquerque de Athayde, Conde de Albuquerque, e o delegado da Ordem no Alentejo, João Fiúza da Silveira, e em nome da Diocese de Beja o vigário-geral, cónego António Domingos Pereira, e o director do Departamento do Património Histórico e Artístico, José António Falcão. in Diário do Sul
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