domingo, 5 de janeiro de 2014

Visita à Quinta da Alcaidaria-Mór, em Ourém. Propriedade da Ordem de Malta, de D. Nuno Álvares Pereira ao 1.º Barão de Alvaiázere

Vista parcial da Casa da Quinta da Alcaidaria-Mor
Correspondendo a um amável convite do Ex.mo Senhor Dr. Luís António de Mancelos Magalhães e Vasconcelos, representante do Título de (6.º) Barão de Alvaiázere, estivemos de visita à Casa e Quinta da Alcaidaria-Mór, em Ourém, onde fomos também muito amavelmente recebidos pela octogenária (5ª) Baronesa de Alvaiázere, Ex.ma Senhora Dona Maria Teresa José Bastos Braamcamp de Mancelos, e seu filho Nuno Braamcamp de Mancelos Magalhães e Vasconcelos, responsável pelo Turismo de Habitação Rural a que oportunamente se adaptou parte da Casa e que muito se recomenda (link).

Esta visita aconteceu em sequência das nossas pesquisas com vista a concretizar e aprofundar as conhecidas ligações da Quinta da Alcaidaria, sita no concelho de Ourém, na região centro do país, à Ordem de Malta. Por estas se concluiu ter sido esta Quinta propriedade da Ordem de Malta desde, pelo menos, meados do século XIV até à primeira metade do século XIX.

Com efeito, para subsistência de familiares e parentes dos mais altos dignitários e até de membros da alta nobreza, privilégio de benfeitores ou mera rentabilização das suas propriedades, a Ordem cedia o domínio útil das mesmas a pessoas particulares que, a troco do respectivo foro, as administravam e usufruíam, retirando delas os seus proventos. Assim aconteceu com a outrora vasta propriedade da Quinta da Alcaidaria, com os bens de Pombal, Leiria, Tomar e Ourém, com todos os outros casais, rendas, tributos e bens que a esta Quinta pertenciam, detidos e usufruidos naquela qualidade por D. Nuno Álvares Pereira, instituído por seu pai D. Álvaro Gonçalves Pereira, Prior do Crato da Ordem Militar do Hospital de São João de Jerusalém e de Rodes, como então se denominava a Ordem de Malta. Situação que se foi renovando e aforando sucessivamente até 1834, altura em que era enfiteuta da Quinta a viúva do 1.º Barão da Alvaiázere, Senhora Dona Maria Ludovina Máxima de Sousa de Almeida e Vasconcelos de Macedo, irmã do 1.º Barão de Santa Comba Dão.

A propriedade plena da Casa e Quinta da Alcaidaria, com seus bens anexos, passou a pertencer aos descendentes do 1.º Barão de Alvaiázere, Doutor Manuel Vieira da Silva, Físico-Mor do Reino e Conselheiro de Estado d'El-Rei D. João VI, que o fez Barão em 1818, por via da remição dos foros e aquisições feitas junto da Fazenda Nacional que, em 1834, havia incorporado todos os bens pertencentes às extintas Ordens Religiosas, nomeadamente, à Ordem de Malta. 

Capela da Quinta, dedicada a Santa Luzia
Um dos factos históricos mais assinaláveis relacionados com a Ordem de Malta e com a Quinta da Alcaidaria é, sem dúvida, o desta ter sido possuída por D. Nuno Álvares Pereira, que nela terá orado a caminho da célebre batalha de Aljubarrota. Mas, mais ainda pelo facto deste, nessas suas preces, ter prometido mandar edificar uma igreja em honra da Virgem Maria em Lisboa, caso as forças por si comandadas saíssem vencedoras da batalha a travar com as forças castelhanas. O que veio a suceder e fez com que D. Nuno Álvares Pereira, entretanto feito Condestável do Reino e Conde de Ourém, mandasse construir o Mosteiro do Carmo em Lisboa, prometendo dotá-lo, mais tarde, com bens e rendimentos próprios. O que fez, mediante carta pública, lavrada em 28 de Julho da Era de César de 1442, que vem a ser o ano da Era de Cristo de 1404, em Almada, onde se encontrava nos seus Paços da Vila.
 
Um dos lotes de bens que D. Nuno Álvares Pereira fez incluir nessa doação, foi precisamente a dita sua Quinta da Alcaidaria, que estava no Termo de Ourém, com os bens de Pombal, de Leiria, de Tomar, de Ourém, e todos os outros Casais, rendas e tributos, que à dita Quinta pertenciam.
 
No entanto, volvido pouco mais de um ano, e por meio de nova carta pública, D. Nuno refere que foi nula aquela doação precisamente na parte referente à Quinta da Alcaidaria e revoga a mesma, porque, examinando os papéis do seu Cartório, neles achou com clareza, que a nenhuma pessoa, mosteiro ou igreja, podia dar esta Quinta e seus bens anexos, porque tudo pertencia à Capela de Flor da Rosa da Ordem Militar do Hospital.
 
Factos de grande importância para a história da bela Quinta da Alcaidaria-Mor e seus proprietários, nomeadamente, para os pretendentes ao título de Barão de Alvaiázere, cujo título não comporta hoje os privilégios de outrora, mas antes a obrigação de preservar e transmitir o enorme peso da história de que são herdeiros, como usa dizer o Ex.mo Senhor Dr. Luís Vasconcelos (Alvaiázere). Também de enorme relevância para a história da Ordem de Malta em Portugal, nomeadamente na região centro do país, onde tantas vezes se entrecruzou mais significativamente com a própria história de Portugal.

Dr. António Brandão de Pinho com a Ex.ma Senhora Dona Maria Teresa
e o Ex.mo Senhor Nuno Magalhães e Vasconcelos
Dos resultados destas pesquisas, que contaram com o Alto Patrocínio de S.E. o Embaixador da Ordem de Malta em Portugal, Dr. Miguel de Polignac de Barros, e empenhada colaboração do Ex.mo Senhor Dr. Luís António de Mancelos Magalhães e Vasconcelos, será elaborado o respectivo artigo.

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