domingo, 4 de agosto de 2013

Visita à Falcoaria Real de Salvaterra de Magos



Recentemente estivemos de visita à Falcoaria Real de Salvaterra de Magos, de que damos nota com algumas curiosidades relacionadas com a Ordem de Malta.
 
Com efeito, remonta aquele complexo aos inícios do século XVIII, tendo os primeiros falcões, cujos exemplares chegaram a Lisboa, com destino a Salvaterra, no dia 24 de Junho de 1745, sido oferecidos ao rei D. João V (1706-1750) pelo português e Grão-Mestre da Ordem de Malta Fra' D. Manuel Pinto da Fonseca (1741-1773).
A tradição de oferecer Falcões e até outras espécies exóticas ao Rei de Portugal, no entanto, é mais antiga. D. António Manoel de Vilhena (1722-1736), o mais renomado português que ocupou a Dignidade de Grão-Mestre da Ordem de Malta, por exemplo, uma vez eleito em 19 de Junho de 1722, todos os anos enviou falcões ao Rei de Portugal, alargando assim uma tradição que se mantinha já com os Reis de França e Espanha. Tradição esta, ainda mais antiga, a remontar a 1530, quando Carlos de Habsburgo, 2.º Rei de Espanha e Imperador do Sacro Império Romano-Germânico impôs à Ordem dos Hospitalários o denominado Tributo do Falcão Maltês em troca simbólica pela cessão da soberania da Ilha de Malta, mediante o qual a Ordem ficou incumbida  de entregar anualmente um falcão treinado para a cetraria ao reino de Espanha.
 
Do periódico "Gazeta de Lisboa", n.º 12, de 20 de Março de 1742, recolhemos a seguinte noticia:
«Quinta feira 15 do corrente deu ElRey noffo Senhor audiência a Duarte de Souza Coutinho, Cavaleiro da Ordem de Malta, e irmam do Correyo Mor do Reyno, que da parte do Gram Meftre da fua Religiam trouxe a Sua Mageftade o cftumado prefente dos Falcoens, fenso feu conductor D. Joam de Souza recebedor da mesma Religiam, que teve a honra de o aprefentar a Sua Mageftade, como fe pratica. Efte Fidalgo havendo desembarcado em hum dos portos de Provença, continuou a fua viagem por terra até efte Reyno».
Ainda neste mesmo ano, com expedição de Nápoles registada a 19 de Junho de 1742 (pode ler-se na "Gazeta de Lisboa", n.º 33, de 14 de Agosto), «O Gram Meftre da Religiam de Malta mandou a Sua Mag. de prefente dous Gatos da Perfia de huma beleza extraordinária».
 
O complexo da Falcoaria Real de Salvaterra de Magos, no entanto, é hoje apenas parte daquele que foi o Paço Real de Salvaterra de Magos mandado construir, por volta de 1542, pelo Infante D. Luís, que obteve o Senhorio da Vila de seu irmão D. João III, ambos filhos d'El Rei D. Manuel I. Antes, porém, já aí existia um Palácio, mas foram de tal monta a obras de ampliação e remodelação, com destaque para a construção da Capela Real, que ainda hoje aí existe também, que o complexo tomou mesmo o nome de Paço do Infante D. Luís. Recorde-se, a propósito, que o Infante D. Luís, para além de Condestável de Portugal, foi também Governador da Ordem de Malta, enquanto Prior do Crato,  o primeiro denominado Grão-Prior do Crato.


Cena de caça com recurso a falcões
Segundo reza a história o infante D. Luís, dito príncipe de altos pensamentos, foi um grande caçador de Falcão e teve a seu serviço oitenta caçadores assalariados, muitos deles estrangeiros, mui práticos nesta arte; e ele no paço, casa donde estava, tinha Falcões e os dava em cuidado aos seus moços da câmara, dos quais eu conheci alguns muito nobres e cada caçador tinha a sua conta dois e três Falcões», pode ler-se nos Anais de Salvaterra de Magos - Dados Históricos desde o Século XIV, por José Estevão.

As Caçadas eram a mais tradicional forma de entretenimento da Família Real. E os nossos monarcas, desde D. Sebastião a D. José, teriam mesmo uma predilecção especial por Salvaterra de Magos e pelas suas vastas coutadas.

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