Por ocasião da
deslocação a Roma, no âmbito das Comemorações dos 900 Anos da Bula Pie Postulatio Voluntatis, pela qual o
Papa Pascoal II aprovou a fundação
do hospital de São João, em Jerusalém, e consagrou o Estatuto e Soberania da
Ordem, aproveitamos para visitar os edifícios da Ordem nesta cidade. Dois
deles, a sede do Grão-Priorado, no Monte Aventino, e o Palácio
Magistral, na Via dei Condotti,
com estatuto de extraterritorialidade, reconhecido pelo Estado Italiano, em
1869.
Casa dos Cavaleiros de Rodes, no Fórum Imperial
Da presença mais
remota da Ordem de Malta em Roma, subsiste, no entanto, ainda hoje, a
denominada Casa dos Cavaleiros de Rodes, edifício sobranceiro ao Fórum Imperial.
Trata-se de um castelo
medieval do século XII, parcialmente incrustado no Fórum de Augusto, que terá
sido adquirido pela Ordem dos Cavaleiros de São João de Jerusalém quando se
encontravam ainda sediados na ilha de Rodes.
Com efeito, alguma
historiografia atribui esta propriedade à Ordem dos Hospitalários a partir de 1466, ano em que Sua
Santidade o Papa Paulo II terá confiado
a administração do Convento dos
Cavaleiros de São João de Jerusalém ao seu Cardeal Marco Barbo.
Refira-se que a área envolvente
deste edifício
foi afetada pela reconversão que entre 1924 e 1932 levou
à abertura da Via dei Fori Imperiali, de que
resultou o desaparecimento dos edifícios medievais do Mosteiro de São Basílio e de um Convento
Dominicano do século XVI.
Em 1930-1946 o edifício encontrava-se na posse da Comuna de Roma e foi restaurado, mas, em 1946, voltou a ser confiado à Ordem, sendo desde então a sede da Associação
Italiana da Ordem Soberana Militar de Malta e do Corpo Italiano de Socorro da OSMM, com sua Capela dedicada ao Santo
Patrono São João Baptista.
Terá sido um Mosteiro
beneditino fortificado no século X, passando depois a propriedade dos
Templários, até à extinção desta Ordem, em 1312, altura em que passou para a Ordem
dos Hospitalários de São João de Jerusalém e de Rodes.
Está esta Villa sobranceira ao rio Tibre, com
largas e belas vistas sobre a baixa de Roma e as cúpulas do Vaticano. Aí se
chega pela via Santa Sabina, que termina na pequena e
pitoresca Piazza
dei Cavallieri
di Malta, onde se encontra, no
Portal principal da propriedade, um dos motivos de maior atração e curiosidade
do Monte Aventino. O Buraco da Fechadura, pelo qual se avistam três "Estados": o
da Ordem de Malta; o de Itália e o do Vaticano, cuja cúpula da Basílica de S.
Pedro se afigura bem ao centro da perspetiva, enquadrada pelos cedros que
ladeiam a entrada principal da Villa do
Grão-Priorado.
Para além do Palácio
do Grão-Priorado, que alberga também a Embaixada da Ordem de Malta em Itália,
podemos ainda encontrar nesta propriedade a Igreja de Santa Maria do Priorado, uma antiga e bela igreja completamente redesenhada por Piranesi em 1765, cujo frontão é
emparelhado por pilastras com capitéis fantasiosos
e uma torre ladeada por esfinges sentadas, proporcionando talvez o exemplo mais antigo de arquitetura neoclássica
em Roma.
Palácio Magistral da Ordem de Malta, na Via dei Condotti
Em 12 de junho de
1798, as forças francesas sob
comando de Napoleão Bonaparte capturaram
a cidade de La Valletta, na ilha de Malta, que
até então e desde a doação do Sacro Imperador Romano Carlos V, em 1530, era
a capital da Ordem dos Cavaleiros Hospitalários de São
João de Jerusalém, de Rodes e de Malta. Napoleão deixou a cidade com uma guarnição considerável e uma administração escolhida a dedo. Em 5 de setembro de 1800, os britânicos conquistaram
a ilha das forças francesas e foi
feita uma colônia britânica em 30
de março de 1814 pelo Tratado de Paris.
Razão pela qual, a Ordem de Malta
ficou sem território, e chegou mesmo a ser dissolvida, depois de se ter instalado
temporariamente em Messina,
Catânia e Ferrara. Ressurgiu, no entanto, em
1834 – ano em que foi extinta em Portugal -, sob o novo
nome "Ordem Hospitalária, Soberana
e Militar de São João de
Jerusalém, de Rodes e de Malta",
ou simplesmente "Ordem Soberana Militar de Malta" (OSMM).
Antonio Bosio,
famoso arqueólogo italiano, cujo pai era
o representante da Ordem de Malta
junto da Santa Sé, comprou o
edifício na então Via dei Trinitatis, que mais tarde se viria a tornar o Palácio
da Ordem de Malta; quando morreu,
em 1629, deixou o prédio para a Ordem. De 1889 a 1894,
foi reformado e
reestruturado, com recuperação da traça original.
Está este prédio
localizado no centro da cidade de Roma, na afamada Via dei Condotti, a poucos passos da
Praça de Espanha.
Território próprio da
Ordem de Malta
Apesar de se referir frequentemente que a
Ordem de Malta tem o estatuto de um Estado Soberano, embora sem território, a Villa do Grão-Priorado, no Monte
Aventino, e o Palácio Magistral, na Via
dei Condotti, em Roma, efetivamente, constituem território próprio da Ordem,
desde 1869. A que acresce o Forte de S. Ângelo, na Ilha de Malta, datado
de 1530, concedido
à Ordem por 99 anos, com caráter extraterritorial, pelo respetivo
Governo em 13 de Março de 2001, como forma de assinalar e comemorar
os 200 anos volvidos sobre a saída da Ordem daquela Ilha. Durante a Segunda
Guerra Mundial considerou-se muito seriamente a possibilidade de lhe ser dada a
soberania do território de Israel.
No entanto, a soberania da Ordem de Malta só veio a ser reconhecida em
1966, não como um Estado, pese embora o seu estatuto muito especial que lhe confere o reconhecimento como pessoa jurídica de Direito Internacional Público, mas como
uma organização internacional, como a ONU ou a Cruz Vermelha. A soberania da
Ordem faz com que lhe seja permitido imprimir os seus próprios selos e expedir os
seus próprios passaportes, concedendo, efetivamente, nacionalidade maltesa aos
seus membros. Atualmente, a Ordem de Malta mantém relações diplomáticas com o
Vaticano e mais de cem países espalhados pelos 5 continentes, onde possui,
inclusive, embaixadas, como é o caso de Portugal. O território ocupado pelas
embaixadas é considerado solo maltês e os representantes diplomáticos da Ordem também
são considerados cidadãos malteses.
Frequentemente, as Missões Diplomáticas
de Estados junto da Santa Sé, acumulam a representação desses mesmos Estados
junto da Ordem de Malta. Pelo que é muito comum encontrar o Brasão de Armas da
Ordem de Malta nas fachadas das Embaixadas de Estado junto da Santa Sé, como é
o caso, por exemplo, da Embaixada de Portugal, cujo atual e belo edifício também
tivemos a oportunidade de visitar, e da Embaixada de Espanha, sita na Praça com o mesmo nome, ao cimo da Via dei Condotti.
Sem comentários:
Enviar um comentário