sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Visita aos edifícios da Ordem em Roma

Por ocasião da deslocação a Roma, no âmbito das Comemorações dos 900 Anos da Bula Pie Postulatio Voluntatis, pela qual o Papa Pascoal II aprovou a fundação do hospital de São João, em Jerusalém, e consagrou o Estatuto e Soberania da Ordem, aproveitamos para visitar os edifícios da Ordem nesta cidade. Dois deles, a sede do Grão-Priorado, no Monte Aventino, e o Palácio Magistral, na Via dei Condotti, com estatuto de extraterritorialidade, reconhecido pelo Estado Italiano, em 1869.
 
Casa dos Cavaleiros de Rodes, no Fórum Imperial
Da presença mais remota da Ordem de Malta em Roma, subsiste, no entanto, ainda hoje, a denominada Casa dos Cavaleiros de Rodes, edifício sobranceiro ao Fórum Imperial. Trata-se de um castelo medieval do século XII, parcialmente incrustado no Fórum de Augusto, que terá sido adquirido pela Ordem dos Cavaleiros de São João de Jerusalém quando se encontravam ainda sediados na ilha de Rodes.
Com efeito, alguma historiografia atribui esta propriedade à Ordem dos Hospitalários a partir de 1466, ano em que Sua Santidade o Papa Paulo II terá confiado a administração do Convento dos Cavaleiros de São João de Jerusalém ao seu Cardeal Marco Barbo.
Refira-se que a área envolvente deste edifício foi afetada pela reconversão que entre 1924 e 1932 levou à abertura da Via dei Fori Imperiali, de que resultou o desaparecimento dos edifícios medievais do Mosteiro de São Basílio e de um Convento Dominicano do século XVI.
Em 1930-1946 o edifício encontrava-se na posse da Comuna de Roma e foi restaurado, mas, em 1946, voltou a ser confiado à Ordem, sendo desde então a sede da Associação Italiana da Ordem Soberana Militar de Malta e do Corpo Italiano de Socorro da OSMM, com sua Capela dedicada ao Santo Patrono São João Baptista.
 

 
Grão-Priorado da Ordem de Malta, no Monte Aventino
Terá sido um Mosteiro beneditino fortificado no século X, passando depois a propriedade dos Templários, até à extinção desta Ordem, em 1312, altura em que passou para a Ordem dos Hospitalários de São João de Jerusalém e de Rodes.
Está esta Villa sobranceira ao rio Tibre, com largas e belas vistas sobre a baixa de Roma e as cúpulas do Vaticano. Aí se chega pela via Santa Sabina, que termina na pequena e pitoresca Piazza dei Cavallieri di Malta, onde se encontra, no Portal principal da propriedade, um dos motivos de maior atração e curiosidade do Monte Aventino. O Buraco da Fechadura, pelo qual se avistam três "Estados": o da Ordem de Malta; o de Itália e o do Vaticano, cuja cúpula da Basílica de S. Pedro se afigura bem ao centro da perspetiva, enquadrada pelos cedros que ladeiam a entrada principal da Villa do Grão-Priorado.
Para além do Palácio do Grão-Priorado, que alberga também a Embaixada da Ordem de Malta em Itália, podemos ainda encontrar nesta propriedade a Igreja de Santa Maria do Priorado, uma antiga e bela igreja completamente redesenhada por Piranesi em 1765, cujo frontão é emparelhado por pilastras com capitéis fantasiosos e uma torre ladeada por esfinges sentadas, proporcionando talvez o exemplo mais antigo de arquitetura neoclássica em Roma.


 
Palácio Magistral da Ordem de Malta, na Via dei Condotti
Em 12 de junho de 1798, as forças francesas sob comando de Napoleão Bonaparte capturaram a cidade de La Valletta, na ilha de Malta, que até então e desde a doação do Sacro Imperador Romano Carlos V, em 1530, era a capital da Ordem dos Cavaleiros Hospitalários de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta. Napoleão deixou a cidade com uma guarnição considerável e uma administração escolhida a dedo. Em 5 de setembro de 1800, os britânicos conquistaram a ilha das forças francesas e foi feita uma colônia britânica em 30 de março de 1814 pelo Tratado de Paris. Razão pela qual, a Ordem de Malta ficou sem território, e chegou mesmo a ser dissolvida, depois de se ter instalado temporariamente em Messina, Catânia e Ferrara. Ressurgiu, no entanto, em 1834 – ano em que foi extinta em Portugal -, sob o novo nome "Ordem Hospitalária, Soberana e Militar de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta", ou simplesmente "Ordem Soberana Militar de Malta" (OSMM).
Antonio Bosio, famoso arqueólogo italiano, cujo pai era o representante da Ordem de Malta junto da Santa Sé, comprou o edifício na então Via dei Trinitatis, que mais tarde se viria a tornar o Palácio da Ordem de Malta; quando morreu, em 1629, deixou o prédio para a Ordem. De 1889 a 1894, foi reformado e reestruturado, com recuperação da traça original.
Está este prédio localizado no centro da cidade de Roma, na afamada Via dei Condotti, a poucos passos da Praça de Espanha.

 
 
Território próprio da Ordem de Malta
Apesar de se referir frequentemente que a Ordem de Malta tem o estatuto de um Estado Soberano, embora sem território, a Villa do Grão-Priorado, no Monte Aventino, e o Palácio Magistral, na Via dei Condotti, em Roma, efetivamente, constituem território próprio da Ordem, desde 1869. A que acresce o Forte de S. Ângelo, na Ilha de Malta, datado de 1530, concedido à Ordem por 99 anos, com caráter extraterritorial, pelo respetivo Governo em 13 de Março de 2001, como forma de assinalar e comemorar os 200 anos volvidos sobre a saída da Ordem daquela Ilha. Durante a Segunda Guerra Mundial considerou-se muito seriamente a possibilidade de lhe ser dada a soberania do território de Israel.
No entanto, a soberania da Ordem de Malta só veio a ser reconhecida em 1966, não como um Estado, pese embora o seu estatuto muito especial que lhe confere o reconhecimento como pessoa jurídica de Direito Internacional Público, mas como uma organização internacional, como a ONU ou a Cruz Vermelha. A soberania da Ordem faz com que lhe seja permitido imprimir os seus próprios selos e expedir os seus próprios passaportes, concedendo, efetivamente, nacionalidade maltesa aos seus membros. Atualmente, a Ordem de Malta mantém relações diplomáticas com o Vaticano e mais de cem países espalhados pelos 5 continentes, onde possui, inclusive, embaixadas, como é o caso de Portugal. O território ocupado pelas embaixadas é considerado solo maltês e os representantes diplomáticos da Ordem também são considerados cidadãos malteses.
Frequentemente, as Missões Diplomáticas de Estados junto da Santa Sé, acumulam a representação desses mesmos Estados junto da Ordem de Malta. Pelo que é muito comum encontrar o Brasão de Armas da Ordem de Malta nas fachadas das Embaixadas de Estado junto da Santa Sé, como é o caso, por exemplo, da Embaixada de Portugal, cujo atual e belo edifício também tivemos a oportunidade de visitar, e da Embaixada de Espanha, sita na Praça com o mesmo nome, ao cimo da Via dei Condotti.

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